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O Globo
Há
a perspectiva de um novo atraso, esse ainda mais grave, no calendário nacional
de vacinação, pois o envio do IFA ( Ingrediente Farmacêutico Ativo) para a
produção na Fiocruz das doses de vacinas da AstraZeneca/Oxford ainda não foi
liberado pelas autoridades da China. O primeiro carregamento deveria chegar na
próxima semana, mas problemas burocráticos impedem a liberação.
O Brasil já está cobrando da matriz da AstraZenaca na Inglaterra, se essa
documentação não for liberada pela China em tempo de chegar aqui ainda este
mês, como estava previsto, que a remessa seja feita através de outros países.
Eles têm o compromisso por contrato de nos entregar a IFA de outro lugar, ou a
vacina pronta. A multa prevista no contrato não é em dinheiro, mas em vacinas.
Como a vacinação está com problemas em vários países, não é certo que a
farmacêutica tenha doses extras para o Brasil.
A linha de produção da Fiocruz já está pronta para produzir, depois desses 2
milhões de doses simbólicas a serem importadas da Índia, em fevereiro mais 5
milhões de doses e iniciar em abril a produção de mais 50 milhões de doses.
Outros 50 milhões estão previstos até julho, com acerto de entrega de IFA
a cada quinze dias, o que, a esta altura, não é garantido.
Mas esse cronograma pode ser alterado dependendo da chegada da IFA. Os
problemas burocráticos giram em torno do protocolo internacional de transporte
biológico de vírus vivo, mas técnicos da Fiocruz estranham que somente agora,
quando já deveria estar sendo enviada a primeira remessa do IFA, esse problema
tenha surgido, já que o contrato foi feito em agosto.
A Fiocruz escolheu o “sítio” (na linguagem técnica) da China como responsável
pelo contrato do envio porque temia que os Estados Unidos de Trump pudessem
criar obstáculos caso a vacinação por lá tivesse problema. A vacina da
AstraZeneca foi uma das selecionadas para receber investimento do governo dos
Estados Unidos através do programa “Warp Speed”, vinculado à Secretaria de
Saúde do governo americano.
A vacina teve ampliada sua ação, pois a segunda dose pode ser aplicada até 12
semanas depois, ou três meses. Isso quer dizer que os 50 milhões de doses que a
Fiocruz pretende produzir até abril vão vacinar o dobro das pessoas
inicialmente previstas. Esses dois milhões iniciais, que estão sendo trazidas
da Índia, não estavam previstos, mas equivalem à vacinação de dois milhões de
pessoas, porque a dose está sendo aprovada como na Inglaterra.
Os 6 milhões de doses que o Instituto Butantan tem no momento podem
vacinar 3 milhões de pessoas, pois, ao contrário da AstraZeneca, o intervalo da
vacina da CoronaVac é de de duas semanas. O governo federal já requisitou o
total de doses da CoronaVac que o governo paulista tem estocadas para poder dar
inicio à vacinação ainda em janeiro, se as doses não chegarem da Índia a tempo.
O governo mais uma vez trabalhou errado nessa negociação com o governo indiano.
O Primeiro-Ministro Modi acertou com Bolsonaro a liberação desse lote de
vacinas, mas não contava com a indiscrição do governo brasileiro, que festejou
o acordo e irritou a oposição na Índia. O avião da Azul com um enorme adesivo
falando sobre o plano de vacinação no Brasil teve que adiar o vôo, orientado
pelo governo indiano, pois sua presença no aeroporto de Mumbai poderia provocar
tumultos. Havia até mesmo a possibilidade de o avião brasileiro ser arrestado
pelo governo indiano para dar uma satisfação à opinião pública.
O governo, que inicialmente renegou a “vacina chinesa”, agora se agarra a ela
para começar simbolicamente a vacinação em massa ainda em janeiro. Mas, ao que
tudo indica, se fizer isso estará cometendo outro erro, pois a primeira etapa
da vacinação prevê atender grupos de risco como idosos morando em asilos,
trabalhadores de saúde, idosos acima de 75 anos, população indígena e
ribeirinha, que perfazem cerca de 15 milhões de pessoas. Só teremos vacinas
para no máximo 5 milhões de pessoas, isso se contarmos com os dois milhões de
doses únicas da AztraZeneca.
Se, como se teme, a importação da Índia demorar duas semanas, o início da
vacinação só ocorrerá otimisticamente em fevereiro. Antes disso, porém, são
previsíveis novos embates políticos entre os governos de São Paulo e Federal.
Se a ANVISA aprovar hoje a vacina CoronaVac, o governo de São Paulo quer
começar a vacinação amanhã mesmo, o que o Ministério da Saúde vai querer
impedir. Essa disputa vai acabar no Supremo Tribunal Federal, além de provocar
revolta entre os habitantes de São Paulo, que serão impedidos de se vacinarem
com as vacinas prontas e aprovadas.
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