O Globo
Fazia tempo que a palavra impeachment não
aparecia com tanta frequência no noticiário. Depois do discurso golpista de
Jair Bolsonaro na Avenida Paulista, virou assunto não só nos jornais, nas TVs e
nas redes sociais, mas também nas conversas dos líderes políticos do Congresso,
do Judiciário e do próprio governo. PSDB, PSD e DEM anunciaram a abertura de
discussões internas sobre o impeachment, e o PDT apresentou uma notícia-crime
contra o presidente por crime de responsabilidade. É a primeira vez que o tema
ganha tal força, apesar do histórico de crises e de motivos para um impedimento
desde o início do governo Bolsonaro.
A questão, portanto, não é se há razões
para tirar Bolsonaro do poder. Fernando Collor perdeu o cargo por causa de um
Fiat Elba, e Dilma Rousseff por pedaladas fiscais que a maior parte dos
brasileiros não é capaz de entender até hoje. Já Lula passou incólume pelo
mensalão, e Michel Temer pelo Joesley Gate. O que interessa saber, no fundo, é:
quem quer de verdade Bolsonaro fora do Palácio do Planalto e o que está
disposto a fazer para isso?
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), definitivamente não está entre essas pessoas. Com seu pronunciamento ensaboado de ontem, Lira deixou claro que ainda não está disposto a comprar uma briga com o bolsonarismo e abrir mão de seu largo quinhão na divisão de poder hoje em funcionamento.
Também não dá para incluir nesse rol o
presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que ontem criticou “arroubos
autoritários” e defendeu a democracia, mas também sugeriu uma reunião de pacificação entre os Poderes.
Depois da invasão da Esplanada por manifestantes, ele cancelou as sessões do
Senado até a semana que vem, em nome da segurança. É um motivo válido, mas
também tira da oposição a tribuna para aproveitar o momento e reforçar o
discurso pró-impedimento. Joga água na fervura, como se diz lá nas Minas Gerais
de Pacheco.
A reação mais enfática ao show golpista do
presidente da República veio de Luiz Fux, para quem, se Bolsonaro cumprir a ameaça de
não mais obedecer a ordens judiciais vindas do STF, estará cometendo “crime de
responsabilidade, a ser analisado pelo Congresso Nacional”. Foi um discurso
forte, mas desagradou aos mais indignados no próprio tribunal, para quem Fux
deveria ter aberto logo de cara uma investigação contra o presidente da
República.
Toda essa hesitação na Praça dos Três
Poderes se explica pela constatação de que, apesar de estar cada vez mais
isolado, Bolsonaro ainda tem o apoio entusiasmado de uma parcela da população.
Não é forte o suficiente para superar a crise, nem fraco o bastante para cair.
E então chegamos aos oposicionistas. Por
mais que digam publicamente que o 7 de Setembro de Bolsonaro flopou, nos
bastidores muitos deles admitem que os atos foram grandes e que, para o
impeachment decolar, é preciso pôr na rua contra o presidente mais gente do que
foi se manifestar a favor.
A ocasião se oferece no próximo dia 12,
para quando está marcado um protesto pelo Fora Bolsonaro, convocado pelo
Movimento Brasil Livre, o MBL. A data foi anunciada em julho, logo depois da entrevista
coletiva que anunciou um superpedido de impeachment, que reuniu de Joice
Hasselmann (PSL) a Guilherme Boulos (PSOL), de Gleisi Hoffmann (PT) a Kim
Kataguiri (DEM).
“Eu fico muito feliz de ver aqui que nós
temos pessoas que estão acima de qualquer questão ideológica, mas que pensam no
Brasil e que pensam na nação”, disse Joice, resumindo o teor das falas de
vários outros. “Eu não titubeei em um único momento em assinar esse superpedido
de impeachment. Marcelo Freixo [ex-PSOL, hoje PSB] chegou e falou para mim:
‘Joice, será que você assina?’ Eu falei: ‘agora, agora’.”
Hoje parece que a união ficou só na foto.
Em vez de estar mobilizada para encher as ruas de gente, a oposição está
rachada. Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Simone Tebet (MDB) confirmaram presença
nos atos, mas Boulos, Freixo e Ciro Gomes (PDT) ainda estão avaliando, e os
petistas dizem que não participarão de uma passeata da direita convocada por um
movimento anti-Lula que defendeu o impeachment de Dilma.
Enquanto Kataguiri, fundador do MBL, se
esfalfa para atrair mais gente para os atos, uma facção do movimento se recusa
a abrir mão da ideia de inflar um enorme Pixuleco na Paulista. Nas redes
sociais, petistas e direitistas anti-Bolsonaro se atacam, numa discussão
estéril sobre de quem é a culpa pelo resultado da eleição de 2018 e qual seria
a manifestação mais legítima contra o presidente da República.
A sensação que dá é que não aprenderam nada
com três anos de bolsonarismo. Ou que talvez não queiram tanto assim ver
Bolsonaro fora do Palácio do Planalto.
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