Folha de S. Paulo
Força de políticos cresce à medida que
Bolsonaro fabrica riscos e ganha segundas chances
Arthur Lira não
quer saber de impeachment. Depois que Jair Bolsonaro subiu num carro de som
para ameaçar o Supremo, o presidente da Câmara falou em "bravatas em redes
sociais", pregou uma pacificação que sabe que não virá e disse que o país
deve ter serenidade para esperar as eleições do ano que vem.
Abrir um processo para derrubar Bolsonaro
ainda é um mau negócio para os deputados que formam o miolo da Câmara. A tensão
política e o enfraquecimento do governo ampliam o poder desses parlamentares e
permitem que eles direcionem seus esforços para o que importa: sua própria
sobrevivência.
A força de Lira cresce à medida que Bolsonaro fabrica riscos e ganha do mundo político segundas, terceiras e quartas chances. Antes de chegar ao comando da Câmara, o deputado já liderava um centrão que dava estabilidade ao governo. Desde então, seu grupo ganhou controle sobre bilhões de reais do Orçamento e foi recompensado com dois ministérios dentro do Palácio do Planalto.
Lira não está sozinho. Embora alguns
partidos tenham começado
a discutir o impeachment, o arranjo atual é uma aposta mais segura para
parte dos parlamentares. Uma mudança de presidente exigiria um novo pacto com o
Executivo, e hoje há mais incertezas do que convicções sobre o poder dessas
siglas num governo de Hamilton Mourão.
A Câmara tenta tirar proveito do
desequilíbrio fabricado por Bolsonaro. O próprio Lira sugeriu que a Casa deve
ter mais protagonismo político e votar "o que é de interesse
público". Já os projetos da agenda do governo devem ficar em segundo plano
–podem ser votados a conta-gotas, a um preço nada módico.
Os parlamentares do centrão e arredores
apostam que não deve haver ruptura e esperam estar em posições confortáveis
para negociar espaços no próximo governo. Para isso, trabalham pelo próprio
futuro. Não é surpresa que o primeiro projeto na pauta após a ameaça golpista
de Bolsonaro seja uma
reforma do código eleitoral que facilita a vida dos políticos.
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