segunda-feira, 11 de outubro de 2021

DEM e PSD ressuscitam rivalidades para 2022

Em busca do papel de ‘fiel da balança’ do próximo governo e de comandar palanque de terceira via, siglas disputam filiações e ensaiam chapas adversárias nos estados. Kassab e ACM Neto concorrem por Alckmin e Pacheco

Bernardo Mello / O Globo

RIO — A busca pelo papel de “fiel da balança” do próximo governo e uma antiga rivalidade entre cúpulas partidárias têm empurrado DEM e PSD para caminhos opostos nos estados em 2022. Em locais como Rio, São Paulo, Minas e Goiás, as duas siglas ensaiam confrontos na formação de palanques e na disputa pela filiação de candidatos. Como ativo, o DEM aposta no fundo eleitoral turbinado pela fusão com o PSL, que vai resultar na criação de um novo partido, o União Brasil.

O PSD surgiu em 2011 como uma dissidência do DEM liderada pelo então prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Após perder a queda de braço pelo comando do DEM para a ala integrada por ACM Neto, e capitaneada pelo deputado Rodrigo Maia, Kassab fundou o PSD em meio a trocas de farpas públicas.

DEM e PSD foram os partidos que mais cresceram nas eleições de 2020, diluindo a força municipal de MDB e PSDB, e figuram entre as maiores bancadas da Câmara, no patamar de siglas como PP e PL, alinhados ao governo Jair Bolsonaro, e do PT, que lançará o ex-presidente Lula para o Palácio do Planalto.

Por tudo isso, integrantes das cúpulas dos dois partidos dizem reservadamente que um busca dar “trombadas” no outro nos estados, numa disputa para ver quem larga em vantagem não só na corrida por governos, mas também para aumentar seu peso no Congresso. Em Rio, Minas e São Paulo, a disputa também envolve a chance de comandar um palanque nacional de terceira via.

Grifes em disputa

Em São Paulo, Kassab e Neto concorrem para filiar o ex-governador Geraldo Alckmin, de saída do PSDB, e lançá-lo ao governo. Alckmin já foi a eventos com Kassab, mas a aposta de Neto e aliados é que o fundo eleitoral do novo União Brasil, atraia o ex-governador, apesar de divisões internas: o DEM paulista é próximo ao vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB), enquanto o PSL local aposta no lavajatismo.

— Para nós, é possível caminhar tanto com Alckmin, quanto com o Rodrigo (Garcia). A questão estadual vai depender também do desenho nacional. O PSL havia filiado o (apresentador de TV, José Luiz) Datena, e tem uma ala que gosta do nome do Sergio Moro — enumerou o deputado Junior Bozzella (PSL-SP).

Em Minas, onde o PSD deve lançar o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, ao governo, outro nome no radar é o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), citado por Kassab como seu candidato ao Planalto. Após oficializar a fusão com o PSL, ACM Neto fez um apelo para que Pacheco permaneça na sigla, e também sugeriu lançá-lo à Presidência.

Para convencer Pacheco, a cúpula do DEM argumenta nos bastidores que Kassab desejaria fragmentar a terceira via para facilitar uma aliança futura com Lula. Já lideranças do PSD citam a presença de nomes de DEM e PSL no primeiro escalão do governo Bolsonaro e lembram que, em diversos estados, candidatos do União Brasil devem fazer campanha para a reeleição do presidente. Caso Pacheco vá para o PSD, lideranças do União Brasil miram a filiação do governador Romeu Zema (Novo), adversário de Kalil.

No Rio, um convite de Kassab tirou o prefeito Eduardo Paes do DEM em maio. Desde então, Paes articula uma candidatura de oposição ao governador Cláudio Castro (PL), que tem DEM e PSL em sua base. Recentemente, Castro ensaiou uma aliança sugerindo indicar aliados do prefeito, como o deputado federal Pedro Paulo (DEM) ou o secretário de Saúde Daniel Soranz, para o posto de vice, mas a cúpula do DEM rechaçou a aproximação com Paes e o PSD.

O prefeito de Belford Roxo, Waguinho (PSL), se colocou como possível vice de Castro, em troca de assegurar o apoio do União Brasil. O deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), que disputa com Waguinho o comando do partido no Rio, também se afastou de Paes por defender um palanque com Bolsonaro.

— Eu não acredito em terceira via. Vejo que a tendência nossa é liberar apoios nos estados — diz Sóstenes.

A fusão com o PSL deve garantir mais recursos de campanha para pré-candidatos do DEM a governos estaduais, como ACM Neto (BA), e Ronaldo Caiado (GO). Neto deve rivalizar com o petista Jaques Wagner, cuja chapa incluirá Otto Alencar (PSD) como candidato ao Senado.

Já Caiado acena abrir espaço ao MDB e ao próprio PSL em sua chapa. Este movimento levou o PSD, do senador Vanderlan Cardoso, aliado do governador, a ensaiar um bloco de oposição e aproximar-se de Gustavo Mendanha, prefeito de Aparecida de Goiânia e possível adversário de Caiado.

Em estados do Norte e Nordeste, pré-candidatos das duas siglas já se colocam em palanques opostos. Na Paraíba, por exemplo, DEM e PSL querem o deputado Efraim Filho ao Senado na chapa do governador João Azevêdo (Cidadania), e o PSD tem Romero Rodrigues, ex-prefeito de Campina Grande, como nome ao Executivo.

 

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