Folha de S. Paulo
É sabido que a Covid afeta de maneira
desigual, ainda mais brutal e deletéria, os pretos e pardos
João Bosco Borba, primeiro presidente da
Associação Nacional dos Empresários e Empreendedores Afrobrasileiros
(Anceabra). Januário Garcia, fotógrafo, autor de livros sobre a cultura
afro-brasileira e ex-presidente do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras
(IPCN). João Acaiabe, ator, viveu personagens marcantes, como Tio Barnabé no
Sítio do Picapau Amarelo. Nelson Sargento, sambista, presidente de honra da
Estação Primeira de Mangueira. Ismael Ivo, bailarino e coreógrafo, foi diretor
da Bienal de Veneza e o primeiro negro e estrangeiro a dirigir o Teatro
Nacional Alemão. Estevão Maya Maya, maestro. Gésio de Almeida, ator. Cecilia
Ramos, empresária. Fabiana Anastácio, cantora gospel.
Na semana em que o país ultrapassou a consternadora marca de 600 mil vidas perdidas para a Covid-19, rememoro os nomes desses brasileiros negros que se destacaram em suas áreas de atuação. Todos morreram em razão da pandemia. Suas mortes abriram lacunas inesperadas no ambiente cultural, social e econômico da diáspora afro-brasileira.
É sabido que a Covid afeta de maneira desigual, ainda mais brutal e deletéria, os pretos e pardos —independentemente da condição social. A esta altura da crise sanitária, praticamente todos nós, negros, já perdemos alguém. Me indago quantas dessas mortes poderiam ter sido evitadas?
Apesar do luto e de estarmos cientes de que “nada é tão ruim que não possa piorar”, por mais profundas que sejam nossas dores, os nomes listados acima trazem esperança. São brasileiros que deixaram um legado que serve de motivação para nos mantermos resilientes. Há diversas barreiras e nenhuma garantia, mas é preciso seguir em frente. Afinal, o “não” a gente já tem.
Bosco, Januário, Acaiabe, Sargento, Ismael, Estevão, Gésio, Cecília e Fabiana são referências positivas para milhares de pessoas. Ajudaram a abrir caminho para os que vieram depois. Protagonizaram o tipo de história de vida que os movimentos sociais negros prezam.
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