Valor Econômico
País asiático era, até então, modelo de
controle da covid-19
Não vem da China, mas da Coreia do Sul, os
dados mais preocupantes sobre a pandemia da covid-19. O repique nos últimos
dias da doença na Coreia do Sul está intrigando os pesquisadores e médicos
sanitaristas brasileiros. Os gráficos publicados abaixo dão a dimensão da
mudança de sinal do país asiático, até então considerado como modelo de
controle da doença. A taxa de vacinação da população é 87,55% dos que tomaram a
primeira dose e de 86,63% dos que cumpriram todas as etapas da imunização.
Para ter uma ideia da progressão das estatísticas relativas à doença na Coreia, no dia 14 de março eram 309.769 novos casos de covid-19 e 200 mortes. Ontem, segundo informações atualizadas, já era mais do que o dobro de novos casos, que chegaram a 621.328, e as mortes haviam, também, mais do que duplicado para 429 pessoas.
Esses indicadores podem levar os menos
avisados a concluir que a vacinação, então, teria sido um desastre e que os
negacionistas tinham alguma razão. Essa é uma constatação totalmente errada, na
visão de especialistas. Ao contrário, é exatamente a abrangência da vacinação -
uma das mais elevadas do mundo - que está resultando em número de mortalidade
baixo comparado ao surgimento de novos casos, apesar de ser crescente. São
cerca de 400 mil novos casos a cada dia, segundo a média móvel de sete dias.
O fato é que a Coreia, assim como a grande
maioria dos países, está em fase adiantada de retirada das restrições impostas
à população. Lá foi feito um sistema de rastreamento extremamente rigoroso e
bem-sucedido da doença e, agora, com imunização, governo e sociedade coreanos estão
um pouco mais lenientes com a pandemia. Ou, melhor dizendo, eles estão
encarando com uma certa tranquilidade a escalada dos números da doença. Foi no
meio do processo de retirada das restrições que entrou a ômicron, variante
contagiosa do vírus e que elevou o contágio.
“É como se todos tivessem desistido de
enfrentar a doença, à exceção da China”, comenta o médico sanitarista da
Fiocruz Cláudio Maierovitch. Ele é um crítico da atitude dos governos,
inclusive o brasileiro, de relaxar a exigência de medidas de proteção. Ele
avalia que é um erro se acabar com a exigência, por exemplo, do uso de máscara.
Afinal, elas não têm repercussão econômica e social importantes e, portanto,
deveriam permanecer.
Ao mesmo tempo, há o surgimento de
variantes do vírus até agora controlados pela vacinação. O problema é que ainda
existem 3 bilhões de pessoas no mundo que ainda não tiveram acesso a vacinas e
são potenciais hospedeiras do vírus, que é mutante.
“Estamos vivendo a maior pandemia da
história da humanidade e acho que é cedo para retirar todas as restrições.
Deveríamos levar a covid-19 a números bem menores do que os atuais antes de
acabar totalmente com o isolamento”, diz o sanitarista, em referência a todos
os governos que adotaram a flexibilização das restrições.
De toda a forma, é uma pena que os países
que até então eram modelos a serem seguidos no controle e combate ao
coronavírus - Coreia, Alemanha ou Reino Unido - estejam, agora, em
desequilíbrio como se tivessem cansados das batalhas contra a pandemia.
Na China, onde o governo adotou a política
de “tolerância zero” à covid-19, hoje combate-se um novo surto da doença com
lockdowns, testes em massa, restrições a viagens e mesmo o confinamento das
pessoas nas cidades onde a doença se manifesta. Para sair dali só com a
autorização policial. É bom que se diga que esse modelo de controle não dá a
menor importância às chamadas liberdades individuais, tão caras a nós,
ocidentais.
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