O Estado de S. Paulo.
Expertise de Bolsonaro: desviar de culpas e responsabilidades e sempre se sair bem
O presidente Jair Bolsonaro é isso que
sempre foi, os erros em série são absurdos e a imagem do Brasil no mundo vai
ladeira abaixo, mas ele chegou à Presidência da República porque é bom de
campanha, não tem limites, viajou a todos os cantos do País e sabe surfar na
onda certa.
Jogou o discurso de 2018 fora, mas viaja
pelo País, tem tropa, estratégia, instrumentos de poder e zero prurido em usá-los
a seu favor. E mais: sabe manipular a internet e a realidade, fazendo de limões
limonadas.
Famílias choram os 670 mil mortos pela covid,
mas o pior da pandemia, aparentemente, passou e o discurso bolsonarista está
prontinho: se ele trabalhou contra isolamento, vacinas e máscaras, isso é o de
menos, o fundamental é que a vacinação é um sucesso. Ah! E não fez mais por
“culpa do STF”.
Na guerra da Ucrânia, Bolsonaro falou em “solidariedade” à Rússia, “neutralidade” e “parceria” com Vladimir Putin. Lavou as mãos, como fez diante da covid e das chuvas na Bahia, mas o discurso também está pronto: o Itamaraty votou na ONU contra a Rússia e o governo libera verbas para Estados afetados pelas enchentes.
A gasolina? Bem, o que ele pode fazer? Se a
“culpa” na pandemia foi do STF, de governadores, prefeitos e mídia, agora é da
Petrobras, que “atrapalha”. O fato de ser (ainda) presidida pelo general
Joaquim Silva e Luna, muito respeitado entre militares e civis, poderia ser um
complicador. Que nada!
Se o capitão insubordinado destratou o
vice-presidente, demitiu o ministro da Defesa e os comandantes de Marinha,
Exército e Aeronáutica, todos de quatro-estrelas, que diferença faz demitir
mais um? O Centrão é que importa.
Bolsonaro também libera dinheiro para
pobres, empresas, evangélicos e sabe manter unida outro tipo de tropa e tenta
censurar um filme de 2017 sob acusação de “apologia à pedofilia”. É mais uma
fake news, mas funciona que é uma beleza em setores da sociedade que não se
interessam por política e não sofrem com a economia, mas têm enfarte com beijo
gay na TV.
Na campanha, Lula e Bolsonaro têm um
adversário implacável, a rejeição. E, assim como o mensalão e o petrolão serão
um tsunami contra Lula, pandemia, Amazônia, cultura, educação, política
externa, rachadinhas e os jet skis na hora errada vão cair na cabeça de
Bolsonaro.
Até lá, a guerra é outra: capturar os
náufragos da terceira via. Lula tem Geraldo Alckmin como chamariz, mas
Bolsonaro tem verba, caneta, a maior bancada da Câmara e uma rede de ódio mais
azeitada. O grande beneficiário de tudo isso pode ser a quarta via: o voto nulo
ou em branco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário