Folha de S. Paulo
Presidente militou pessoal e
insistentemente contra as vacinas
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga,
anunciou o fim da
emergência sanitária da Covid-19 no Brasil.
Do ponto de vista comportamental, ele está
atrasado. Faz semanas que a maior parte da população já age como se a doença
não existisse mais. Do ponto de vista da gestão, a decisão é precipitada, já
que há uma série de medidas, como a utilização da Coronavac, que dependem da
declaração de emergência para ocorrer legalmente. E do ponto de vista do vírus,
o Ministério da Saúde é irrelevante.
Independentemente do que faça ou diga
Queiroga, o Sars-CoV-2 continuará evoluindo segundo os caprichos da seleção natural,
podendo ou não produzir uma linhagem que volte a nos devastar.
O ministro, porém, é pau-mandado de Jair Bolsonaro, que está doido para deixar a epidemia para trás. Foi por isso, não por razões médicas, que ele decretou o fim da emergência. Não se deve ser ingênuo a ponto de acreditar que a política não influa nesse tipo de decisão. João Doria, dias antes de deixar o governo de São Paulo, também deu seu showzinho, anunciando o fim da exigência de máscaras em ambientes internos. A medida, embora não configure uma roleta russa, estava longe de ser consenso entre os especialistas....
E por que Bolsonaro quer deixar a epidemia
para trás? Porque o Brasil se saiu muito mal nela. Ostentamos a
13ª pior taxa de mortalidade por Covid do planeta. Não dá obviamente para
imputar os mais de 660 mil mortos ao presidente, mas ele, por ações e omissões,
agravou a situação. Seu negacionismo foi particularmente cruel. Ele não se
limitou a evitar a adoção de medidas que prejudicavam a economia, o que outros
governantes também fizeram.
Bolsonaro militou pessoal e insistentemente
contra as vacinas, não porque o Brasil não tivesse como adquiri-las, mas porque
botou na sua cachola que elas não eram importantes. É um nível de leviandade
incompatível com o exercício da Presidência.
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