terça-feira, 19 de abril de 2022

Carlos Andreazza: Governo Braga Costa Net(t)o

O Globo

Não há corrupção. Há fotos apagadas e ataques à Lei de Acesso à Informação pela sociedade firmada entre o governo militar de Bolsonaro e o consórcio arthur-nogueira-neto.

Não há corrupção. Pode haver ruído circunstancial no arranjo societário. Nada que não se ajeite. Os pastores do MEC estiveram abençoados com franjas do FNDE; até se exibirem. Daí o alarido. Já silenciado. Não há corrupção. Há pano rápido.

O governo honesto é corporativista, como corporativista é a gestão eleitoreira do Orçamento. Ciro Nogueira, o verdadeiro Guedes, sabe distribuir. Sócios também os fardados, a materialização — ainda que com Viagra, em último caso com próteses penianas — do ímpeto patrimonialista do Planalto. O pulo do gato está na reserva.

Não há corrupção. Há filtros: gabinetes paralelos e sigilo. Não existirá mesmo corrupção num governo que se limpa entre a multiplicação de estruturas influentes informais e a decretação de segredos centenários, processo tocado por um gabinete formal, o de Segurança Institucional, a serviço do universo em que Bolsonaro e seus barros são probos.

Jamais será corrupta a família cujo pai — o presidente — desfilha o jairzinho que se vale dos trânsitos no palácio para traficar influência. Problema da mãe. E o estagiário de Sylvio Frota que comanda o GSI que se vire para filtrar as visitas do zero-alguma-coisa e de seus amigos-em-busca-de-alguns-zeros; que rebole para sustentar a existência de um filho do presidente que, tendo se mudado para Brasília depois da eleição do pai, estaria — segundo o pai — “há muito tempo longe”.

O general — que gritou o “pega” e agora corre — que faça a conta fechar; pelo menos para efeito no zap profundo em que o mito combate aquilo que seu governo produz no Ministério da Educação.

Falemos do MEC novamente. O FNDE é propriedade de Ciro Costa Neto. Foi ali, onde se arma licitação para a compra de ônibus escolares com preços superfaturados, que operaram os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. Não são obra dos ciros e netos, porém.

Gilmar, segundo nos contou o ex-ministro Milton Ribeiro, só teve existência porque Bolsonaro pediu para que recebesse especial atenção no ministério. Seu parceiro Arilton é aquele cuja foto foi apagada pela Casa Civil. Não sendo agentes formais da pasta, corrupção não haverá no governo. A CGU endossa. Para isso há os gabinetes paralelos. Problema da Polícia Federal. E o que de comprometedor escapar, ou se deleta ou se esconde.

Aras não há. Não há corrupção. Sujos são os visitantes.

O resto será a palavra de degredados do bolsonarismo como Weintraub, de acordo com quem Bolsonaro lhe pediu que entregasse o comando do FNDE ao Centrão.

Nunca haverá corrupção no governo de um sujeito que constituiu, ao longo de três décadas, uma empresa familiar dentro do Estado, mas que foi eleito — e ainda é percebido em sua base de apoio fundamental — como inimigo do establishment. Weintraub será somente um ingrato, de resto a conviver com a questão desonrosa: por que demorou tanto a falar, só o fazendo agora que sem apoio do antigo chefe para se candidatar?

Bolsonaro é sócio de Valdemar Nogueira, todos costa neto de costas largas. Ciro, outrora também associado nos governos petistas, mas que só no do capitão conseguiu alcançar o coração do Planalto, gestor formal do Orçamento, senhor também, com o alcolúmbrico Arthur Pacheco, do orçamento secreto.

O governo de Jair Nogueira é militar, mas é sobretudo dos militares. A cultura dos valdemares, também netos, foi aplicada pelos bragas: o uso de emendas do relator, via Ministério da Defesa, para a construção até de capelas funerárias em paróquias de aliados de Ciro Lira. É assim quando general quer se viabilizar como vice.

O método por meio do qual a sociedade no poder faz rir consiste em passar o tanque. A turma vai tratorando, em massa, arrastando o Orçamento. Quando algo da blitz é revelado, recua-se. E o governo capitaliza como se a interrupção daquela veia do esquema derivasse de algum efeito dos alertas internos; na verdade, inócuos.

É a mesma prática de arrastão que jorra dinheiros para o início da construção de escolas, enquanto outras, milhares, vão abandonadas. Começa-se a obra sabendo que não haverá como terminá-la. Mas é ano eleitoral. Tira-se a foto. Aumenta-se a superfície dos fotografados. Alarga-se a das obras sem fim. Talvez um erro administrativo — dirá Arthur Bolsonaro.

Escolas entregues no mundo alternativo em que o governo dos gabinetes paralelos não é corrupto. Aquele mundo em que se compra kit robótica superfaturado para colégios desprovidos de água encanada — a educação conforme Jair Lira. Um governo honesto que tem até empreiteira em ascensão meteórica para chamar de sua. Mérito.

 

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