Valor Econômico
Após a reunião com as centrais sindicais,
na quinta-feira, em que o ex-governador Geraldo Alckmin gritou um entusiasmado “viva
Lula, viva os trabalhadoooores do Brasil”, o ex-tucano e seu futuro companheiro
de chapa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vão
reaparecer juntos no Congresso Nacional do PSB, em Brasília. Ambos são
aguardados para a abertura do evento, no dia 28.
Será a terceira aparição da dupla em
público, desde o início dos ritos para sacramentar o inesperado enlace. O
registro oficial da chapa, entretanto, somente ocorrerá após as convenções
partidárias entre julho e agosto. A primeira fotografia, criticada pela falta
de diversidade (ausência das minorias), remonta a 8 de abril, quando as cúpulas
de PT e PSB celebraram o noivado político.
O segundo ato público entre Lula e Alckmin
foi no dia 13, no evento com sindicalistas, quando o neo-pessebista chamou o
petista de “maior líder popular
deste país”. Na véspera, o diretório nacional do PT havia
aprovado a indicação do ex-tucano para compor a chapa como vice de Lula por 68
votos a favor e 16 contrários.
O Congresso Nacional do PSB ocorrerá entre
os dias 28 e 30 de abril, quando a atual Executiva Nacional será reconduzida
para um novo mandato e será votada a “autorreforma” programática da legenda.
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, que
será reeleito, adiantou à coluna que haverá vagas na nova direção para as
lideranças que acabaram de chegar ao PSB.
Além de Alckmin, os deputados Marcelo Freixo (RJ) e Tabata Amaral (SP) e o ex-governador do Maranhão Flávio Dino ganharão assento no diretório nacional. “Precisamos incluir as novas lideranças que ingressaram no partido, que são muito representativas”, explicou Siqueira. “É um rearranjo da direção, para que ela possa expressar as novas do partido”.
Apesar da nova fase, o PSB ainda tem velhas
rusgas com o PT nos Estados. São Paulo é o exemplo mais emblemático, onde o
ex-governador Márcio França (PSB) e o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) disputam
a cabeça de chapa na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes na coalizão de
esquerda, mas também persistem indefinições no Rio Grande do Sul e Espírito
Santo.
Siqueira ressalva que as pendências não
ameaçam a aliança nacional porque a prioridade zero é “derrotar o
bolsonarismo”. Mas pondera esses embaraços “não deixam a liderança estadual do
PSB numa situação confortável”.
Apesar dos recentes atos públicos da dupla
Lula-Alckmin, que começam a ganhar fluxo, Siqueira observa que as direções
nacionais de PSB e PT precisam se reunir para ajustar forma e conteúdo da
frente ampla encabeçada por ambos - e que inclui PV e PCdoB, que formaram
federação com os petistas. “Até agora não há nada combinado”, alertou o
dirigente pessebista.
O ponto de partida da união é consensual:
essa eleição não será uma disputa entre esquerda e direita, mas entre
democracia e autoritarismo, diz Siqueira. Ele também está convicto de que a
polarização Lula-Jair Bolsonaro “é irreversível”.
O que preocupa o dirigente do PSB é a falta
de clareza, até agora, sobre a constituição da frente ampla, liderada por Lula.
“Uma frente precisa ter correspondente programático, ela não pode ser algo
apenas de retórica, precisa ter um programa que corresponda à
representatividade política, social e econômica dessa frente”, advertiu
Siqueira, em sintonia com declarações de Flávio Dino na entrevista ao Valor publicada ontem.
Siqueira observa que se não foi possível
até agora uma aliança com partidos mais ao centro, que haja um esforço para se
conquistar setores econômicos e sociais desse espectro. “Esse programa não
corresponde a uma disputa de direta e esquerda, ainda não percebi que essa diretriz
esteja clara”, destacou.
Para Siqueira, a exigência de uma
inclinação mais ao centro tem na disputa interna em São Paulo o exemplo mais
emblemático. “Não é uma candidatura mais à esquerda que amplia a frente, é uma
mais ao centro, essa que pode trazer o eleitor de centro”, diz o dirigente,
puxando a brasa para Márcio França. “É mais fácil levar uma pessoa de esquerda
a votar em alguém de centro para garantir a frente ampla, do que o inverso”.
Siqueira acrescenta que o futuro programa
da frente ampla terá que ter clareza sobre o projeto econômico, e,
simultaneamente, encampar uma reforma política ampla e profunda. “É
indispensável que ao ganhar a eleição, se possa relegitimar o sistema político,
que está altamente destroçado”, criticou. “Bolsonaro já é fruto da necrose
desse sistema”.
No encontro com as centrais sindicais, Lula
disse que vai criar uma mesa de negociação entre representantes de sindicatos e
empresários para discutir mudanças na legislação trabalhista, caso venças as
eleições. Ao lado de Alckmin, adiantou que esse debate poderá ser coordenado
pelo vice-presidente.
Sobre o tema, Siqueira afirma que o PSB
nunca negou a necessidade de uma reforma que modernizasse a legislação
trabalhista, mas não no sentido da precarização do trabalho. “E, sim, no
sentido de perceber o mundo pela evolução tecnológica e pela revolução
industrial, que criou condições de trabalho que não estão previstas na
legislação”.
Siqueira diz que o PSB quer contribuir de
forma ampla com o futuro programa de governo e que vai se reunir com a
presidente do PT, Gleisi Hoffmann, para saber qual será o espaço dos partidos
da frente ampla nesse debate.
Afirma que o PSB está afiado para discutir
os problemas do Brasil, porque se dedicou plenamente a isso nos últimos dois
anos, desde que iniciou o processo de “autorreforma”, que visa a reformular o
documento de fundação do partido, que remonta a 1947.
“Fizemos uma reestruturação do programa partidário em todas as áreas: ciência e tecnologia, política industrial, Amazônia 4.0, educação, saúde e segurança pública, de modo que ele possa se confundir com diretrizes a curto, médio e longo prazo de um verdadeiro Programa Nacional de Desenvolvimento para o país”, concluiu.
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