Folha de S. Paulo
O fato de golpistas assumidos pedirem votos
não é paradoxo, é retrato do Brasil
"Há males que vêm pra pior."
Lembrei a frase de Millôr Fernandes (aliás, o que o guru do Méier diria sobre o
abismo em que nos metemos?) ao descobrir que, além das bancadas da bala, do boi
e da Bíblia, prepara-se uma nova para povoar o Congresso: a dos alvos do STF,
ou, simplificando, a bancada do golpe. O fato de golpistas assumidos pedirem
votos à população não é um paradoxo, é o retrato do Brasil.
Com a cara de pau que Bolsonaro lhes deu, vão se candidatar, entre outros, Zé Trovão, que incentivou caminhoneiros a fechar as estradas do país no golpe fracassado de 7 de setembro; Roberto Jefferson, veterano do mensalão; Otávio Fakhoury, empresário que financia mentiras na rede. O ferrabrás Daniel Silveira aguarda o julgamento na corte para saber se poderá concorrer ao Senado. Vale até revelar podres do ex-chefe, como faz Abraham Weintraub, que mira alto: o governo de São Paulo.
Não são apenas os golpistas que buscam
escapar da cadeia adquirindo imunidade parlamentar. A turma da cloroquina
também se mobiliza. A médica Nise Yamaguchi,
integrante do gabinete paralelo no Ministério da Saúde, sonha com o Senado, e
Mayra Pinheiro, ex-secretária da pasta conhecida como Capitã Cloroquina, com a
Câmara. O general Eduardo Pazuello, que do desastre na condução do combate à
pandemia passou a assessor-fantasma no Planalto, tentará uma cadeira de
deputado pelo Rio de Janeiro.
Como na festa de arromba das eleições
sempre cabe mais um penetra, Eduardo Cunha está de volta depois da cana.
Cuspindo no prato carioca em que se refestelou, ele agora é dono de partido
político em São Paulo e, apesar de inelegível, garante que será candidato.
Periga até ser presidente da Câmara outra vez. E estou curioso para ver quantos
votos terá o Queiroz, com ou sem apoio da família.
Se Bolsonaro não ganhar, mas essa gente se
eleger, pense no trabalho que terá o próximo presidente para lidar com o
Congresso.
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