Folha de S. Paulo
Repercussão sobre decisões mostra que
comunicação pode fortalecer agenda do governo
A maioria dos brasileiros é a favor
da batalha de
Lula pela queda da taxa de juros. Segundo dados da pesquisa
Genial/Quaest, divulgada no dia 15 de fevereiro, 76% acham que
Lula está certo em tentar forçar uma queda na taxa de juros, enquanto apenas
16% discordam.
A luta contra os juros é mais popular que a avaliação
positiva do governo (40%) e que a aprovação do comportamento de
Lula na Presidência (65%). Ao mesmo tempo, apenas um terço dos entrevistados
sabe que o Banco Central
é responsável pela definição da taxa de juros e que seu atual
presidente foi indicado por Jair Bolsonaro.
Entre os temas mais lembrados relacionados ao novo governo Lula também foram citadas medidas econômicas recentes como: aumento do Bolsa Família, aumento do salário mínimo, investimentos externos do BNDES, isenção do Imposto de Renda e ações para redução de preços e inflação.
No Twitter, o acréscimo
de R$ 18 no salário mínimo e a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até
R$ 2.640 foram os assuntos mais comentados entre os dias 15 e
16 de fevereiro. Bolsonaristas reagiram com ironia ao aumento de
"apenas" R$ 18. Contudo, a única vez que Bolsonaro propôs de fato um
aumento real do salário mínimo foi aos 45 do segundo tempo, em dezembro de
2022. E o valor foi bem inferior ao proposto por Lula.
Visando a reeleição, Bolsonaro assinou uma
medida provisória para elevar o valor do salário mínimo em 7,4%, que passaria de
R$ 1.212 para R$ 1.302. O ganho real, porém, seria de apenas 1,4% em
comparação com os 2,81% de aumento real a serem concedidos por Lula em maio.
Inclusive, desde que Bolsonaro assumiu a Presidência, os reajustes no valor do
salário mínimo haviam sido feitos somente com base no aumento da inflação, ou
seja, sem nenhum ganho real considerando o crescimento da economia. Lula, por
sua vez, já anunciou que futuros aumentos do salário mínimo serão atrelados ao
crescimento do PIB.
Outra frente de batalha a ser encampada em
breve por Lula é a da
reforma tributária. Bernard Appy, secretário especial do Ministério
da Fazenda, é uma das principais referências no assunto. Autor da PEC (proposta
de emenda à Constituição) 45, que propõe a
substituição de cinco tributos (PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS) por um único
imposto sobre bens e serviços, Appy considera que a reforma deve
visar não apenas maior crescimento econômico, mas também uma melhor
distribuição de recursos.
Para tanto, o secretário
propôs um "cashback de imposto" para famílias mais pobres.
O novo mecanismo permitiria desonerar pessoas em vez de desonerar produtos, o
que seria mais justo, dado que os mais ricos também são beneficiados com
isenções. Com o "cashback", o benefício econômico para os 10% mais
pobres, por exemplo, seria maior do que desonerar completamente a cesta básica.
Além disso, Appy também defende uma melhor distribuição de recursos para os
entes federativos, e afirma que a ideia é que pessoas e municípios mais pobres
sejam beneficiados, mas sem que isso implique em prejuízo aos demais.
A aprovação da reforma proposta por Appy não será algo trivial. Porém, a julgar pelos atuais índices de opinião pública, caso o governo invista em comunicação, o poder de agenda de Lula pode se fortalecer ainda mais.
*Doutora em ciência política pela USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento
Nenhum comentário:
Postar um comentário