Folha de S. Paulo
Respaldo a medida discutida pelo governo
tem crescido de forma consistente
No dia 17 de julho, em
uma entrevista concedida à jornalista Mônica Bergamo, o ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, foi enfático sobre a necessidade de taxar os brasileiros mais
ricos. O tema deve ser discutido em maior profundidade durante a segunda etapa
da Reforma
Tributária, e, segundo o próprio ministro, será alvo de resistências
importantes. No entanto, o petista conta com a opinião pública a seu favor.
De acordo com uma pesquisa realizada em 2022 pela Oxfam Brasil, intitulada "Nós e as Desigualdades", o apoio ao aumento da tributação sobre os muito ricos estaria consolidada no Brasil. Os dados coletados no ano passado mostram que 85% dos brasileiros apoiam o aumento de impostos de pessoas muito ricas como forma de garantir educação, saúde e moradia para a população mais pobre.
Tendo em vista os dados reunidos desde
2017, o apoio cresceu de forma consistente. Em 2017, 71% da população defendia
a taxação dos mais ricos. Em 2019, o índice subiu para 77% e, em 2021, para
84%.
No ano passado, constatou-se que a defesa
da taxação é ainda maior entre pessoas com 60 ou mais anos (90%), com ensino
fundamental (90%), entre brasileiros com renda familiar de até um salário
mínimo (91%), moradores da região Nordeste (88%) e de cidades de até 50 mil
habitantes (87%), pessoas que afirmam que experimentaram descenso social nos
últimos cinco anos (88%) e mulheres negras (88%).
Aqueles contrários à proposta, 14% em 2022
e 28% em 2017, se concentram entre os estratos que gozam de maior renda e
status social. Nesse sentido é possível destacar pessoas com ensino superior
(19%), aqueles que ganham mais de cinco salários mínimos (34%), brasileiros
que se autoclassificam como pertencentes à classe média alta (29%), pessoas
que afirmam que ascenderam socialmente nos últimos cinco anos (18%) e homens
brancos (16%).
Para além disso, a pesquisa registra ainda
uma inédita reversão no apoio ao aumento de impostos em geral para assegurar
melhor educação, mais saúde e
moradia. Mais da metade dos respondentes, 56% dos brasileiros, concordam com a
necessidade de maior tributação para custear gastos sociais —em 2017 apenas 24%
da população era favorável, e 75% era contrária. Isso significa que, nos
últimos cinco anos, o apoio ao aumento de imposto para financiar políticas
sociais mais do que dobrou.
A defesa do aumento de impostos em geral
para financiar políticas sociais é ainda maior entre jovens de 16 a 24 anos
(60%), que têm ensino fundamental (66%), possuem renda familiar de até um
salário mínimo (64%), moradores da região Nordeste (62%), pessoas que
recebem o Benefício de Prestação
Continuada – BPC/Loas (65%), mulheres pardas (62%) e homens pretos
(63%).
Tais dados refletem o apoio massivo da
população por maior justiça e igualdade, mas também a urgência dos mais pobres
em obter melhores serviços públicos, sobretudo educação, saúde
e moradia. Assim, se a disputa pela taxação dos mais ricos corre o risco de ser
reduzida a um embate retórico, o governo deve, ao menos, fazer o esforço
necessário para preservar a saúde e a educação de cortes e restrições
orçamentárias.
*Doutora em ciência política pela USP e
pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento
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