quinta-feira, 12 de outubro de 2023

Bruno Boghossian - Hesitação de Lula atiça cobiça do Congresso por influência na PGR

Folha de S. Paulo

Parlamentares querem um procurador-geral que deva também à classe política sua indicação

A hesitação de Lula no processo de escolha de um novo procurador-geral atiçou a cobiça dos políticos que dominam o Congresso. Como o presidente mostrou que não tem um candidato do coração para preencher a vaga, parlamentares da base governista e do núcleo do centrão identificaram uma oportunidade para emplacar um apadrinhado no posto.

Com a competência de processar deputados e senadores, a PGR pode ter papel determinante na sobrevivência de políticos. O plano dos parlamentares é garantir que Lula escolha um nome que não deva sua indicação apenas ao presidente da República, mas seja também um amigo da turma que habita o Congresso.

O consórcio que lidera esse movimento sonhava com a permanência de Augusto Aras, um chefe da PGR que desenvolveu estreita relação com a classe política. Uma de suas obras recentes foi um pedido para que o STF suspendesse o inquérito que investigava aliados de Arthur Lira na compra de kits de robótica.

Os parlamentares sabem que Aras não tem mais chances de conseguir um novo mandato, mas ainda querem participar do conclave para a indicação de outro nome. Para pressionar Lula, o senador Davi Alcolumbre criou um congestionamento artificial na pauta da Comissão de Constituição e Justiça, responsável pelas sabatinas dos escolhidos para a PGR.

Uma manobra semelhante foi armada por Alcolumbre em 2021, quando ele travou por 141 dias a indicação de André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal. Naquela época, o senador pressionava Jair Bolsonaro a desistir da nomeação e escolher um ministro mais próximo dos congressistas —no caso, ninguém menos que Augusto Aras.

Lula pode topar um acordo caso encontre um nome que atenda aos interesses dos dois lados, mas não se livrará da relação disfuncional que mantém com o Congresso. A influência sobre a PGR pode ser uma arma a favor de Alcolumbre na disputa pela presidência do Senado em 2025, e nada indica que seus métodos mudarão se ele voltar à cadeira.

 

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