domingo, 12 de novembro de 2023

Elio Gaspari - As duas diplomacias de Israel

O Globo

Israel tem um bom serviço diplomático e, graças a ele, consegue prodígios pelo mundo afora. Apesar disso, o Brasil pegou a banda paleolítica desse serviço. Seu atual embaixador, Daniel Zonshine, fala e se mexe demais. Criticou publicamente o governo e enfiou-se de forma impertinente em investigações policiais.

Zonshine foi antecedido no posto por um dos piores embaixadores mandados para Pindorama. Yossi Shelley meteu-se em patacoadas bolsonaristas durante o desastre de Brumadinho. Patrocinou a vinda de uma inútil equipe de militares e incomodou quem estava no serviço de resgate. Anunciou a entrega de 200 toneladas de retardantes de fogo para as queimadas da Amazônia e elas nunca chegaram. Almoçou com Bolsonaro e comeu um lagostim. Até aí, seria uma pequena transgressão das regras do judaísmo. Orgulhando-se do evento, a embaixada de Israel postou uma imagem do almoço, borrando o lagostim. Coisa de amador.

Shelley incomodou parte da comunidade judaica brasileira e acabou recusando-se a comparecer a um jantar da Confederação Israelita do Brasil.

Como o serviço diplomático de Israel é profissional, Yossi Shelley foi removido em fevereiro de 2021, durante o governo de seu amigo Jair Bolsonaro. Ele se tornou assessor do primeiro-ministro Netanyahu e em outubro passado fez mais uma. Deu a entender que a rave onde o Hamas matou mais de 200 pessoas não deveria ter sido programada. Desculpou-se.

Daniel Zonshine não repetiu as bizarrias de Shelley, mas suas intromissões provocaram respostas do ministro da Justiça, Flávio Dino, e do diretor da Polícia Federal, Andrei Passos. A tarefa de um embaixador é defender os interesses do seu país sem atrapalhar o governo junto ao qual é acreditado, mas o embaixador fez isso ao se meter em casos que estão sob investigação.

Dino e Passos não pediram muito a Zonshine, apenas profissionalismo.

A delação de Mauro Cid pode ser exemplar

A colaboração premiada do tenente-coronel Mauro Cid é um unicórnio. Fala-se muito dela, mas ninguém a viu. O subprocurador-geral Carlos Frederico dos Santos, que a viu, achou-a “fraca” e avisa que o julgamento de seu valor dependerá de investigações.

Mauro Cid falou de reuniões macabras. Falta saber o dia, o local e buscar a confirmação das propostas colocadas na mesa. Ao escolher o caminho dessa busca, o procurador evitou a rota da desastrosa colaboração do ex-ministro Antonio Palocci à Polícia Federal, feita em 2018 e divulgada astuciosamente pelo então juiz Segio Moro às vésperas do primeiro turno das eleições.

Palocci falou muitas coisas, de propinas internacionais vindas da Líbia e de simples gestões de empresários, transformadas em futricas. Investigou-se coisa nenhuma. Nem mesmo o dinheiro líbio, que teria passado pela conta do marqueteiro Duda Mendonça, vivo à época, na condição de delator confesso. Bastava pedir o extrato de suas contas no exterior.

A Operação Lava-Jato avacalhou as colaborações. Os anos se passaram e, graças a essas avacalhações, larápios confessos acabam inocentados pelo Supremo Tribunal Federal.

Carlos Frederico dos Santos foi didático:

“Ao delator que se propõe a firmar esse tipo de acordo não basta possuir uma narrativa, ele tem que apontar os participantes de um crime e apontar, pelo menos, os caminhos até as provas para confirmarmos aquilo que ele falou.”

Se as investigações levarem a nada, caduca o acordo. Se levarem a delitos e delinquentes, isso só servirá para valorizar o gesto do colaborador e para exaltar a participação da Polícia Federal no processo. Nesse caso, todo mundo ganha. No caso de Palocci, todo mundo perdeu, salvo Jair Bolsonaro, que ganhou um sopro, e o juiz Moro, que se tornou seu ministro da Justiça.

Eremildo, o idiota

Eremildo é um idiota e sempre achou razoável que os barões da rede varejista Americanas não tivessem percebido a fraude bilionária que ocorria na empresa.

Por cretino, concordou com os doutores da CPI que encerraram seus trabalhos sem apontar responsáveis.

Outro dia ele leu uma reportagem de Rodrigo Rangel contando que o deputado João Bacelar afirmou que seu colega Gustinho Ribeiro, que presidiu a CPI, comprou a prazo um cavalo por R$ 1 milhão. O negócio teria sido fechado logo depois do funeral da Comissão.

Gustinho rebateu: “O deputado Bacelar todo mundo conhece o histórico dele, e ele não é digno de resposta. Todo mundo sabe a intenção e o intuito dele durante os trabalhos da CPI e o que ele desejava fazer com os convocados.”

Eremildo acha que a turma da Americanas deveria formar uma comissão para investigar a CPI.

A PF e seus peritos

Uma das glórias do Federal Bureau of Investigation, o FBI americano, sempre foi a excelência dos seus peritos e laboratórios. A Polícia Federal brasileira está desperdiçando o serviço de seu Instituto Nacional de Criminalística ao aceitar documentos periciados por outras fontes ou sem perícia alguma.

Um exemplo dessa prática deu-se com as imagens do incidente ocorrido no aeroporto de Roma com o ministro Alexandre de Moraes. As imagens mandadas pelo governo italiano não foram analisadas pelo INC.

Com razão, a associação dos peritos reclamou.

Novembro de 1963

No dia de hoje, há 60 anos, o presidente John Kennedy reuniu-se em Washington com o irmão Robert e mais três colaboradores, para discutir pela primeira vez uma estratégia para sua campanha à reeleição.

O vice-presidente Lyndon Johnson não foi chamado. A revista Life tinha oito repórteres investigando sua vida e, na última edição, pela primeira vez, ele foi classificado como “milionário”.

Três dias depois, John Kennedy estava em Nova York. Lá, era esperado por Mimi Bearsdley, uma jovem de 20 anos, ex-estagiária na Casa Branca, com quem tinha uma relação sexual havia 18 meses. Eles se encontraram no hotel Carlyle, e o presidente deu-lhe US$ 300 para comprar alguma coisa fantástica. Ela desceu, foi à loja Bloomingdale’s e voltou num conjunto de lã, conservador. Ele abraçou-a e disse que gostaria de levá-la para a viagem ao Texas.

— Te chamo quando voltar.

Mimi respondeu que estava de casamento marcado.

— Eu sei, mas te chamo assim mesmo.

No Texas, Lyndon Johnson cuidava do seu rancho, onde Kennedy e sua mulher Jacqueline dormiriam na sexta-feira, dia 22. Cigarros, toalhas fofas e champanhe para ela. Uísque Ballantine’s para ele. (Ainda não haviam conseguido o colchão duro sobre o qual Kennedy dormiria.)

No domingo que vem, dia 19, completam-se 60 anos da manhã em que os jornais de Dallas publicaram o local onde o presidente almoçaria e o itinerário da caravana de veículos que percorreria o centro da cidade.

A limusine do presidente, sem capota, passaria debaixo das janelas do depósito de livros onde Lee Oswald trabalhava.

2 comentários:

ADEMAR AMANCIO disse...

Viagem fatídica.

Daniel disse...

As 2 diplomacias de Israel se igualam na canalhice, tentando convencer o mundo de que Israel trava uma luta justa e é o bem contra a barbárie do Hamas. DIPLOMATAS MENTIROSOS!
39 jornalistas foram mortos em Gaza pelos ataques israelenses, mais de 70 funcionários da ONU foram assassinados por tais bombardeios, a grande maioria dos hospitais já foi destruída, diariamente são atingidos os escritórios da ONU, os campos de refugiados, as escolas onde se abrigam centenas de mulheres e crianças. Nada escapa dos ataques diários israelenses contra CIVIS PALESTINOS em Gaza, que já mataram mais de 12 mil palestinos, sendo mais de 4.500 CRIANÇAS. Os ataques do Hamas mataram 31 crianças israelenses...
Para "se defender", Israel comete CRIMES DE GUERRA desde o primeiro dia de seus ataques. 2 milhões de palestinos vivem em Gaza sob o TERROR espalhado pelos israelenses, com cumplicidade da União Europeia, dos EUA e destes diplomatas CANALHAS de Israel.