O Estado de S. Paulo
O presidente Lula, com a indicação de Flávio Dino, reconhece que o Supremo é supremo
Além do reconhecimento explícito de que o STF
é uma instância política, a indicação de Flávio Dino como mais novo integrante
da Corte tem um simbolismo mais abrangente. Lula reconhece que o Supremo é
supremo.
Nesse sentido, as duas indicações – um novo ministro e um novo PGR – são uma operação casada ancorada na compreensão que os ministros do STF tem do próprio papel e da instituição. Embora neguem, os integrantes da Corte acabaram se tornando agentes políticos com posturas “políticas” também no sentido mais amplo (no sentido de que se julgam interpretes do que seriam consensos na sociedade).
Além, claro, de encabeçarem uma corporação
muito ciosa e bem organizada na defesa de suas prerrogativas e privilégios. E,
ao que tudo indica, extremamente ciosos na garantia do espaço político
conquistado com mais ênfase ainda no período de Bolsonaro na Presidência. Caso
clássico de gênio que não volta mais para a garrafa.
O grande problema no exercício desse espaço
“político-institucional” na recente era de embate político no qual o STF foi
peça fundamental era justamente o Ministério Público. Em vários momentos os
ministros “articuladores” no STF esperaram do PGR um fogo de cobertura que
nunca veio. Ao contrário: o antigo PGR Augusto
Aras desenvolveu por Alexandre de Moraes, o
ponta de lança no embate político, o mesmo tipo de antagonismo que já existira
em outros tempos entre Janot e Gilmar Mendes.
A operação casada no momento elimina o risco
do STF ficar “sozinho na chuva”, como se sentiu sob Bolsonaro. Nesse sentido,
ao contemplar uma indicação para o PGR trazida por dois ministros centrais nas
constelações do STF, Lula encontrou um nome técnico perfeito com excelente
trânsito nas esferas dos tribunais superiores.
O problema do STF como instância política é
sobejamente conhecido por Lula, mas ele considera que, no momento, essas
circunstâncias jogam a seu favor. O risco é alto, pois o fator de “união” dos
11 integrantes do Supremo – as depredações institucionais de Bolsonaro – deixou
de existir, o que sugere que maiorias serão compostas de caso a caso.
Em relação ao Ministério Público, o que Lula
terá de enfrentar é até mais abrangente do que ocorre com o STF como instância
política. Trata-se de outra poderosa corporação que também não aceita perder
privilégios e, principalmente, espaços de atuação. O ambiente sempre foi
altamente politizado, e com peso na própria governabilidade da instituição. Às
duas instituições Lula entregou o bem bolado que queriam. À espera de muita
retribuição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário