segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Bruno Carazza* - Quando o notável saber político prevalece

Valor Econômico

A indicação de Flávio Dino para o Supremo Tribunal Federal gerou uma onda de críticas pelo caráter político da escolha de Lula. Não é a primeira vez: basta lembrar dos critérios de ser“ terrivelmente evangélico” e de poder “tomar tubaína comigo”, considerados por Bolsonaro na nomeação de André Mendonça para o cargo. Tampouco será a última ocasião em que a política, a ideologia ou a confiança pessoal prevalecem sobre o requisito de “notável saber jurídico” presente na Constituição.

No didático “O Supremo: entre o direito e a política”, Diego Arguelhes argumenta que as opções presidenciais para o STF quase nunca são técnicas. De um lado, ministros do Supremo são constantemente convocados a decidir sobre questões de forte conteúdo subjetivo, em que são confrontados dois ou mais princípios constitucionais. Buscando influenciar esses julgamentos, os presidentes buscam nomes com a visão ideológica de seu campo político.

Para complicar, o STF também é o foro onde é julgado um amplo rol de autoridades, como o próprio presidente e seu vice, mas também deputados federais e senadores. Sendo assim, a indicação de alguém para assumir essa função precisa agradar aos interesses de uma coalizão bem mais ampla.

Em cada definição, diferentes critérios prevalecem. No também ótimo “Os Onze: o STF, seus bastidores e suas crises”, Felipe Recondo e Luiz Weber concluem que o processo de seleção dos membros do Supremo frequentemente responde “a cálculos de política menor, a pequenos agradecimentos, idiossincrasias do presidente, ao marketing político, a padrinhos poderosos, à confiança pessoal do presidente da República na pessoa e não no perfil de quem será o julgador”.

Procurando mostrar em números como essa ponderação entre “saber jurídico” e “preferência política” se deu desde a Constituição de 1988, realizei um exercício para dar peso a essas dimensões.

A partir dos currículos dos ministros extraídos dos sites do STF e do Senado, atribuí valores a variáveis ligadas à experiência acadêmica e profissional de cada ministro antes da sua nomeação (pós-graduação, publicações, exercício de magistério e anos de atividade jurídica), assim como sua atuação política (cargos eletivos, vínculos familiares ou atuação como Advogado-Geral da União, ministro da Justiça ou advogado do pessoal do presidente ou de seu partido).

O indicador é limitado, pois não leva em conta, por exemplo, a relevância das publicações ou da instituição onde estudou ou lecionou o candidato ao STF. O número de anos de experiência também não é uma medida perfeita para o saber jurídico.

Ainda assim, é possível identificar que vivemos um retorno aos primórdios da Nova República, quando os presidentes privilegiavam vínculos políticos à relevância da carreira jurídica na sua seleção.

Escolhas emblemáticas, como juristas mulheres ou negros, ou profissionais com longa história na magistratura dão lugar a causídicos que serviram aos presidentes como seus ministros da Justiça, chefes da AGU ou até mesmo seus advogados pessoais.

No caso de Dino, é a quarta vez que teremos um político profissional no Supremo, um passo de mais de duas décadas para trás, para a época em que Sarney, Itamar e FHC levaram os ex-parlamentares Paulo Brossard, Maurício Corrêa e Nelson Jobim ao Supremo. Em tempos de polarização política e dominância do Centrão, o notável saber político voltou a pesar.

*Bruno Carazza é professor associado da Fundação Dom Cabral e autor de “Dinheiro, Eleições e Poder: as engrenagens do sistema político brasileiro” (Companhia das Letras)”

11 comentários:

laurindo junqueira disse...

Já ouvi dizer que cada ministro do STF tem uma tropa de 250 advogados que elaboram seus pareceres. Não me parece que a nomeação de Brossard e de Jobim tenha dado em maus resultados para a Justiça brasileira, não?

Anônimo disse...

PARA O STF SE NOMEIA GUARDIÕES PARA CONTROLE E REPRODUÇÃO DA ORDEM CONSTITUCIONAL

■As nomeações de Nelson Jobim e de Paulo Brossard para o STF não deram em mau resultado para a Justiça do Brasil.
■Eu concordo com isso!
E a indicação de Maurício Corrêa também não.

Mas observe-se::
■Nas indicações de Nelson Jobim, Paulo Brossard e Maurício Corrêa para o STF nem sequer houve vislumbre de missão ideológica, missão particular de interesse de grupo ou missão pessoal em favor de quem indicou. E mesmo situações anômalas sequer estiveram colocadas para que esses vislumbres se dessem.

■Os presidentes que indicaram Brossard, Maurício Corrêa e Nelson Jobim --respectivamente Sarney, Itamar Franco e Fernando Henrique-- não estavam marcados como políticos com prática de instrumentalização de instituições públicas e de aparelhamento do Estado e também não constava para eles situações em que houvesse a eventual necessidade de fazerem movimento para obterem proteção contra delinquências.

Paulo Brossard, Maurício Corrêa e Nelson Jobim foram indicados para o STF para exercerem o papel próprio do STF, de fazer o controle constitucional dos atos dos três poderes, e não o de dar respaldo a políticas e ideologias de interesses de grupos políticos ou de dar proteção a membros destes grupos em relação a práticas delinquentes.

Anônimo disse...

■■■No entanto, cabe uma consideração sobre o perfil dos indicados para instâncias superiores.
■Uma avaliação mais conscienciosa sobre o papel de ministros do STF deveria descartar a indicação de qualquer político para esta instância, para evitar contaminação e possibilidade de conspurcação da Superestrutura Jurídico Política e Ideológica exatamente na instituição de controle constitucional.

Anônimo disse...

■■■As indicações para ministros do STF pelos presidentes da república no pós-ditadura de 1964 seguiu sempre um critério consciencioso, de que sobre o indicado não pairasse nenhuma dúvida sobre qual papel cumpririam.

■Seguidamente, os nomes indicados por Sarney, Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique, Lula e Dilma não permitiam nem fumacinha de suspeita sobre os indicados poderem cumprir missão ideológica exótica, defender interesse de grupo particular ou muito menos haver sequer deslumbre de terem como missão dar proteção a seus padrinhos em relação a eventuais delinquências ou perseguição à inimigos pessoais de seus padrinhos.

Anônimo disse...

Mas este ritual ético e moral de indicação para o STF foi quebrado.

■Com o envolvimento de Lula, Temer e Bolsonaro com escândalos de corrupção, o STF passou a ter indicação de nomes para ministros que não dão aos brasileiros a confiança necessária na instituição de controle constitucional.

A confiança de brasileiros que sobra para os nomes indicados por Lula, Temer e Bolsonaro para o STF, após se envolverem com escândalos que os levam a movimentos para se protegerem das consequências destes escândalos, fica restrita ao grupo de torcedores respectivos.

Hoje, no STF, milhões de brasileiros veem os Ministros Kássio Nunes Marques e André Mendonça como estando em missão ideológica e judicial em favor de Bolsonaro, veem os ministros José Dias Tóffoli e Cristiano Zanin em missão de interesses de Lula, do PT e seus entorno e vê Alexandre Moraes articulado para ganhar poder que pode servir a Michel Temer.

Você, se você é petista, vê os Ministros Kássio e Mendonça sem suspeitas ideológicas ou morais?

Você, se você é bolsonarista, vê os Ministros Zanin e Tófoli sem suspeitas ideológicas e morais?

E o Ministro Alexandre, vocês acham que há por parte dos brasileiros a confiança necessária na sua atuação.

Por favor, eu estou me referindo ao STF e aos seus ministros:: opinião como torcedor não vale!

Anônimo disse...

Sinceramente?
■Um país sob a desconfiança que paira sobre os seus dirigentes, sobre suas forças políticas e especialmente sobre sua instância suprema, como é a desconfiança no Brasil sobre presidentes, ex-presidentes e STF, não tem chance de bom futuro.

Anônimo disse...

Para mim, o que mais está pesando sobre a indicação de Flávio Dino para o STF não é se Dino tem ou não tem suficiente conhecimento sobre direito constitucional; o que mais está pesando sobre a indicação de Flávio Dino é a desconfiança que os brasileiros têm em quem indicou o nome de Dino e sobre ele poder repetir o que os brasileiros têm visto acontecer no STF e que está se refletindo na pouquíssima confiança naquela instituição.

Anônimo disse...

POR CAUSA DOS QUE AINDA FECHAM OS OLHOS PARA OS ABSURDOS DE LULA, BOLSONARO E DO STF...

...RESOLVI VOLTAR AQUI E COLAR ESTA NOTA

■■■Metrópoles
@Metropoles. 6h
⚖️ Moraes bloqueia conta da filha adolescente de bolsonarista foragido.

Na decisão, Alexandre de Moraes “afastou, excepcionalmente, garantias individuais”

■Vejam:: é uma nota dada pelo "Metropolis". Ainda não confirmei.

Anônimo disse...

■■■Eu falo dos absurdos de Bolsonaro e mesmo mostrando os fatos e os dados há bolsonaristas que chamam de loucura.
||》Bolsonaristas doutrinados e que funcionam por fé e não por razão devem pensar de mim :: ▪︎"Por que ele fala essas coisas absurdas sobre Bolsonaro?".

■■■Eu falo dos absurdos de Lula e mesmo mostrando os fatos e os dados há lulistas que chamam de loucura.
》Lulistas doutrinados e que funcionam por fé e não por razão devem pensar de mim :: ▪︎"Por que ele fala essas coisas absurdas sobre Lula?".

=》Os absurdos muitas vezes são os mesmos, ...

...mas para um lulista só é loucura falar quando é de Lula que se fala...

....e para um bolsonarista só é loucura falar quando é de Bolsonaro que se fala.

■■Quando eu falo dos absurdos de gente como Alexandre Moraes, Gilmar Mendes, Dias Tóffolli, Kássio Nunes, André Mendonça,...
=》Quando é destes que eu falo, a reação depende de quem os corruptos e abusados gurus de cada torcida quer ficar a favor ou ficar contra.

Essas torcidas fanáticas não torcem para o Brasil:: quando um torcedor torce para o seu país ele usa a razão.

Esses torcedores só torcem para isso seus gurus. Se as merdas que seus gurus fazem ferrarem com o Brasil, eles nem querem ver. É por isto que eles andam de olhos politicamente fechados.

Anônimo disse...

Agora que já confirmei e voltando à nota do "Metrópolis" sobre Alexandre Moraes::
■O Brasil tem ou não tem que ser passado a limpo por meio de um Processo Constituinte, os dois populismos com práticas e retóricas mescladas de extremismos serem contidos (os dois), o STF ser refeito e a democracia ser protegida?

Um STF com ::
Alexandre Moraes;
Kássio Marques;
Dias Tóffolli;
Gilmar Mendes;
Cristiano Zanin
André Mendonça...

E um Brasil revezando como presidentes Bolsonaro, Lula, Temer e agregados...

...NÃO DÁ !

O STF e o Brasil têm de ser de todos, não de alguns deles!

ADEMAR AMANCIO disse...

Onde já se viu!