The New York Times / Folha de S. Paulo
Elaborado por aliados do ex-presidente,
Project 2025 mostra aspirações oficiais e não oficiais de um novo mandato
Não vou especular sobre o efeito da tentativa de assassinato de Donald Trump no
sábado (13) na corrida
presidencial de 2024. No entanto, vou fazer uma observação: alguns
na direita política estão usando o ataque para insinuar que a crítica aos
esforços passados de Trump para reverter os resultados da última eleição, ou
qualquer sugestão de que ele represente uma ameaça à democracia, agora está
fora dos limites.
Mas duas coisas são verdadeiras ao mesmo
tempo: violência política é inaceitável, ponto final. E os esforços de Trump e
de seus apoiadores mais radicais para minar a democracia americana continuam
sendo inaceitáveis.
Com a convenção republicana desta semana, é importante entender as possíveis ramificações tanto de sua plataforma oficial quanto de suas aspirações não oficiais, incorporadas pelo Project 2025.
Para quem é novo nisso, o Project 2025 é um
plano feito por e para alguns dos aliados próximos de Trump, elaborado pela
Heritage Foundation, para garantir que, se Trump vencer em novembro, o
movimento Maga [Make America Great Again, slogan do ex-presidente] começará a
agir imediatamente.
Ele busca fornecer "tanto uma agenda
governamental quanto as pessoas certas no lugar certo, prontas para executar
essa agenda no primeiro dia do próximo governo conservador".
Os detalhes estão descritos em um documento
de aproximadamente 900 páginas, "Mandate for Leadership" [Mandato para a
Liderança], com planos de ação específicos para muitas partes do governo
federal.
Quão radical é a agenda do Project 2025? No
início deste mês, Kevin Roberts, presidente da Heritage, afirmou que o país
está no meio de uma "segunda Revolução Americana" que ocorrerá sem
derramamento de sangue "se a esquerda permitir".
Os republicanos parecem, no entanto, ter
percebido tardiamente que grande parte do que está no Project 2025,
especialmente seu ataque em várias frentes aos direitos reprodutivos, é
profundamente impopular.
Trump tentou se distanciar do projeto,
afirmando na semana passada que não sabe "nada" sobre ele, embora muitas das pessoas
que trabalharam nele sejam ex-funcionários e assessores de Trump, e embora em
2022 Trump tenha dito em uma conferência da Heritage que seus apoiadores
"iriam lançar as bases e detalhar planos para exatamente o que nosso movimento
fará".
De forma mais geral, uma vez que Trump nunca
se mostrou um especialista em políticas, há todas as razões para acreditar que,
se ele vencer, ele deixará, como fez em seu primeiro mandato, grande parte da
formulação de políticas detalhadas para pessoas que se preocupam com os
detalhes —então é mais do que razoável pensar no Project 2025 como um guia do
que poderia acontecer em um segundo mandato de Trump.
O que isso significaria? Há muitas coisas
para se opor no Project 2025, mas eu argumentaria que a coisa mais importante
está na seção intitulada "Taking the Reins of Government" [Assumindo as
Rédeas do Governo].
Há muito nesta seção, mas basicamente ela
pede a substituição de grande parte do serviço público federal, que consiste
principalmente de servidores públicos de carreira um tanto isolados de pressões
partidárias, por nomeados políticos que podem ser contratados ou demitidos a
qualquer momento.
Na verdade, Trump deu um passo significativo
nessa direção perto do final de seu mandato, emitindo uma ordem executiva que
criou uma categoria de indicado político, o Schedule F, que teria permitido a substituição de muitos
funcionários de carreira por leais partidários.
O presidente Biden revogou essa ordem, mas o
Project 2025 a traria de volta de alguma forma —provavelmente em uma escala
muito maior.
De certa forma, isso representaria um grande
passo ao passado. Durante grande parte do século 19, o governo federal operava
no "sistema de espólios", no qual os novos governos demitiam muitos
funcionários e os substituíam por apoiadores políticos.
Esse sistema tinha grandes problemas: muitos
indicados careciam da experiência e competência necessárias para desempenhar
suas funções, e a rotatividade constante era um convite aberto ao compadrio e à
corrupção.
Em 1883, menos de dois anos depois que o
presidente James Garfield foi assassinado por um homem desequilibrado e descontente em busca de um cargo
político, o Congresso aprovou a Lei Pendleton, que criou um serviço civil
profissional no qual a maioria dos funcionários não pode ser demitida ou
rebaixada por motivos políticos.
Havia razões muito boas para essa reforma na
época, mas o argumento para isolar a maioria dos funcionários do governo da
pressão partidária é muito mais forte agora.
Veja bem, em 1883 o governo federal tinha uma
presença muito menor na vida americana; os gastos
federais eram apenas um pouco mais de 2% da economia. O governo federal de hoje é cerca de 10 vezes
maior e também tem um grande impacto por meio de sua regulação
de tudo, desde poluição até aplicação de leis antitruste.
Agora, imagine politizar as grandes partes de
nosso governo que atualmente são relativamente apolíticas. É muito fácil
imaginar um presidente sem escrúpulos usando o poder que isso lhe daria para
recompensar amigos e punir oponentes em todo o país.
Lembre-se, durante as fases iniciais da
pandemia de Covid-19, Trump sugeriu abertamente que talvez não ajudasse os estados
cujos governadores não o apoiassem: "É uma rua de mão dupla. Eles também
têm que nos tratar bem."
Se ele vencer e o Project 2025 entrar em
vigor, ele estará em posição de se envolver nesse tipo de pressão em grande
escala.
Há muitas outras coisas no Project 2025, sobre as quais falarei em futuras colunas. Por enquanto, vamos apenas dizer que é tão ameaçador quanto os críticos relatam. E, apesar das tentativas desonestas de Trump de se distanciar do projeto, nos dá uma boa ideia de como poderia ser um segundo mandato dele.
3 comentários:
Excelente! O colunista é mesmo brilhante!
Um segundo mandato de Trump despedaçaria o pouco que resta de democracia nos EUA. O sujeito foi capaz de tentar dar um golpe e invadir o Capitólio, e ainda é apoiado por quase metade do eleitorado.
O maior mentiroso do mundo (mais de 30 mil mentiras em 4 anos de mandatos, averiguadas e contabilizadas pelo Washington Post) e o pior presidente dos EUA, capaz de tentar dar um golpe de Estado no comando da maior potência mundial. E querem reeleger este CRIMINOSO JÁ CONDENADO. E a maioria dos nossos colunistas e deputados querendo que o Brasil copie o que os EUA fazem...
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