O Estado de S. Paulo
Diversos países começam a registrar uma leitura mais benigna da trajetória dos preços
Após boa parte das principais economias do mundo ter divulgado seus índices de preços ao consumidor referente a junho, ficou claro que, além de uma leitura benigna pelo segundo mês consecutivo, a inflação global surpreendeu os analistas, vindo abaixo das projeções de mercado. Assim, já dá para dizer que a inflação entrou numa tendência global de desaceleração?
O resultado que mais teve impacto sobre os investidores foi o CPI (sigla em inglês para índice de preços ao consumidor) de junho nos Estados Unidos, caindo 0,1%, enquanto os analistas previam alta de 0,1%, o que fez a taxa acumulada em 12 meses ceder de 3,3%, em maio, para 3%. Foi a primeira queda mensal do índice em quatro anos.
A leitura mais benigna da inflação não foi
apenas nos EUA. Na China, os preços ao consumidor subiram 0,2% em junho ante
igual mês de 2023, enquanto a previsão era de alta de 0,4%. No Brasil e no
Chile, a inflação também veio abaixo do que o mercado esperava. Na Alemanha, a
taxa acumulada em 12 meses desacelerou de 2,8%, em maio, para 2,5% em junho,
ficando abaixo das projeções. Aliás, nos últimos meses também houve boa notícia
em países que vinham flertando com uma espiral inflacionária, como a Argentina
e a Turquia.
De fato, há motivos para otimismo. Contudo,
há quem faça a ressalva de que a desaceleração mais significativa da inflação
tem sido observada nos índices cheios, em razão da queda nos preços de
alimentos e de energia, como o da gasolina. E que o núcleo desses índices –
quando preços voláteis de combustíveis e de alimentos são excluídos – ainda
está em patamar elevado, embora tenha também mostrado uma visível melhora nos
últimos meses.
É justamente o núcleo da inflação que aponta
a dinâmica dos preços no futuro. Nos cálculos dos analistas do banco JPMorgan,
em junho a média móvel anualizada em três meses do núcleo da inflação global
(excluindo China e Turquia) recuou para 2,7%, menor patamar em três anos. Mas,
em vários países, esse núcleo ainda está acima das metas perseguidas pelos
bancos centrais.
Isso porque o mercado de trabalho segue
apertado ao redor do mundo, incluindo no Brasil. Com isso, os ganhos salariais
se mantêm elevados, pressionando os preços de serviços, com impacto em outros
custos na economia. Na Zona do Euro, o aumento dos salários foi de 5,1% no
primeiro trimestre de 2024.
A aposta é de que o aperto monetário adotado em vários países irá, finalmente, esfriar o mercado de trabalho. Daí, a confiança de que a inflação global esteja entrando em trajetória sustentável de desaceleração.
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