O Estado de S. Paulo
O Comitê de Política Monetária (Copom)
manteve os juros básicos (Selic) em 10,50% ao ano, na reunião desta
quartafeira, o que era esperado.
Mas não ficou tudo na mesma. Para efeito de
sua política monetária, o Banco Central está lidando no momento com novas
pressões da inflação. Provêm elas de três campos: deterioração das contas
públicas; avanço da cotação do dólar (desvalorização do real); e aumento da
demanda agregada por bens e serviços.
São fatores que descambam para um círculo vicioso: refletem tanto a perda de confiança na condução da política econômica como concorrem para aumento da insegurança, o que reduz a confiança na condução da política econômica.
A deterioração das contas públicas é sentida
tanto pelo crescimento do déficit orçamentário, que o ministro da Fazenda não
consegue cobrir, quanto pelo alastramento da dívida pública: em 18 meses,
escalou dos 71,4% do PIB em janeiro de 2023 para 77,8% ao fim de junho.
A cotação do dólar no câmbio interno saltou
16,2% neste ano. Como nada há de especialmente errado nas contas externas e
como as reservas continuam nos US$ 357 bilhões, essa estirada tem a ver com a
perda de confiança na condução da política fiscal. É fator que tende a aumentar
os preços internos, a partir dos importados e dos produzidos aqui, mas cotados
em dólares.
O aumento da demanda agregada tem seu lado
positivo: o do crescimento da renda da população e o da queda do desemprego,
mostrada pelo IBGE nesta quarta-feira, para 6,9% da força de trabalho, no
segundo trimestre de 2024.
São estas as principais razões que levaram o
Copom a aumentar o tom das advertências. Ao invés de baixar, os juros tendem a
subir – se as condições não melhorarem.
De mais positivo extra Copom foram as
declarações do presidente do Fed (o banco central dos Estados Unidos), Jerome
Powell, de que a inflação por lá perdeu força. Ele sugeriu que, em setembro,
poderá sair o primeiro desafogo monetário em dois anos.
Como é um animal político, o presidente Lula
tende a ver essas e outras coisas sob a ótica da construção das relações de
poder que sobrevierem com as eleições de 2026. Sua opção preferencial é pelo
aumento dos gastos até onde puderem ser disfarçados ou puderem encontrar um
bode expiatório que, no momento, continua sendo o presidente do Banco Central.
Como o impacto do câmbio tende a crescer,
convém perguntar se a cobrança não passará da política dos juros para a
política de câmbio, no sentido de produzir certa intervenção para segurar a
alta da moeda estrangeira.
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