O Estado de S. Paulo
Lula já impôs ao indicado para o BC um difícil teste de credibilidade
Dois grandes problemas de naturezas distintas
estão no caminho do indicado para o Banco Central. E a origem das duas questões
se localiza no Palácio do Planalto. A primeira são as consequências de uma
política fiscal que expande os gastos públicos e busca o equilíbrio das contas
via arrecadação. Gabriel Galípolo já assinou comunicados do Banco Central com
alertas exatamente para esse ponto – uma política fiscal crível é um dos
grandes componentes da taxa de juros.
Mas Lula, que o indicou, não acredita nisso. Em parte por não entender exatamente como funcionam os delicados mecanismos de formação de preços numa economia moderna (e juros são um deles). Em parte pelo primado que impôs da política eleitoreira sobre os rumos fiscais do governo. No horizonte de curtíssimo prazo no qual Lula opera, gasto é vida política, sim.
A segunda das questões essenciais para o novo
presidente do BC é mais complexa, com profundas raízes históricas e sociais. É
a maneira como as figuras públicas no País enxergam as instituições. Lula
divide com antecessores (inclusive o mais recente deles) a mesma compreensão de
que, tendo vencido eleições, as instituições são “suas”. E estão ali para
servir aos seus interesses, ou suas visões políticas, entendidos então como
interesses da Nação.
Nessa perspectiva, as nomeações vitais são
aquelas que pretendem ocupar instituições com alguém “seu”. Lula já sofreu
grandes decepções quando nomeações dele para o STF, por exemplo, não produziram
os resultados esperados por ele (caso do mensalão).
Em outras palavras, não cabe nesse jeito de
entender o mundo que instituições possam ser “de Estado”, independentes (como
agências reguladoras), ou que funcionem de acordo com os critérios que suas
burocracias (no sentido de Weber) estabeleceram. Não há separação entre
indivíduo e seu papel institucional.
Lula continua lutando contra a autonomia do
Banco Central, que ele declarou que teria de ser “seu”. Na sua visão, o
presidente dessa instituição deve lealdade pessoal e política a quem o indicou
– o mesmo com o STF.
Criou assim um formidável teste de
credibilidade para o indicado ao BC. Há uma notória diferença entre o que
agentes econômicos esperam da condução de um Banco Central e o que agentes da
política governamental desejam que aconteça.
Essa diferença é crescente pois os agentes
econômicos desconfiam da capacidade do governo de equilibrar as contas
públicas. E o governo desconfia que o Banco Central só dá ouvidos para os
desconfiados (o tal “mercado”), por interesses econômicos e/ou políticos. No
meio disso tudo, Galípolo vai precisar também de muita sorte.
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