Valor Econômico
Aversão do empresariado a Marçal vai até o fim do 1º turno
Sondado por um amigo comum para uma conversa
com Pablo Marçal,
um banqueiro despistou. “Cê tá louco? Ele vai sair por aí dizendo que falou
comigo”. Um grande investidor paulistano, com negócios imobiliários em Goiás,
de onde Marçal foi exportado para São Paulo, recebeu a mesma sondagem e caiu
fora.
No meio empresarial e
financeiro, este tem sido o comportamento padrão em relação ao candidato do
PRTB à Prefeitura de São Paulo. Pelo menos até 6 de outubro. Num
segundo turno contra Guilherme
Boulos (Psol), cenário no qual a pesquisa
Quaest desta quarta sugere um rigoroso empate, a coisa muda de
figura.
O horror cede lugar ao inevitável. Com PCC, com tudo. Em dois grupos diferentes de WhatsApp de investidores, a vitória do candidato do Psol aparece como a única situação que os levaria a optar por Marçal, como um dia o fizeram, de maneira menos titubeante, por Jair Bolsonaro contra o lulismo.
Os empresários que
orbitam em torno de Marçal ainda são predominantemente do marketing digital e
startups financeiras, mas essas bolhas já começam a se expandir. Na noite do
sábado, Samuel Pereira, um empresário do marketing digital, reuniu em sua casa
em Alphaville um grupo de amigos em torno do candidato do PRTB.
Entre aqueles 11 homens brancos, regados a
Rosso di Montalcino 2019 - Biondi Santi, havia um de fora da bolha, José Janguiê Diniz,
fundador do Ser Educacional. Um dos grupos que mais se expandiram com o Fies e o Prouni dos governos
petistas, abriu capital na B3.
Janguiê joga em todas as posições.
Estreitou relações com administrações de
centro-esquerda, como a Prefeitura
do Recife, com a qual tem parceria de formação profissional, e
comprou, por R$ 27,5 milhões, no leilão da massa falida do Banco Santos, a mansão do
Morumbi, zona sul de São Paulo, do ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira. Com os
cotovelos sobre a mesa, Janguiê gravou mensagem de apoio a Marçal, assim como
os demais comensais, em vídeo que circula nas redes sociais em que todos fazem
o “M” com os dedos apontados para baixo.
Não é o único de fora da bolha. Na lista de
doadores oficiais da campanha de Marçal, está Helio Seibel, da HS Investimentos, com
participações em grandes empresas do país, como a Dexco (Duratex, Deca,
Hydra), Leo Madeiras, Loggi e Apolo Energia.
No registro oficial, Seibel doou R$ 100 mil,
o mesmo que o empresário goiano Helvio Paulo Ferro Filho. Cada um deles doou
tanto para Marçal quanto Arminio
Fraga o fez para a candidata do PSB, Tabata Amaral. Marçal
arrecadou, até o momento, R$ 944 mil, quatro vezes mais que Tabata. Dos cinco
primeiros colocados nas pesquisas, são os únicos com registro de doações no
TSE.
A lista de mais de 1 mil doadores de Marçal,
com valores de R$ 500 a R$ 1 mil, é um cartão de visita para o discurso do
empreendedorismo que entusiasma dois simpatizantes, Rafael Ferri e Tallis Gomes.
Ferri ganhou fama ao colocar uma escultura de Paulo Guedes na
entrada da empresa da qual era sócio, a TC, na avenida Faria Lima, centro
financeiro de São Paulo. Depois de vender sua participação nesta empresa, abriu
uma assessoria de investimentos, a GTF
Capital, que presta consultoria patrimonial a clientes da
corretora Genial. Já Gomes, fundador da Easy Taxi e da Singu, empresa de beleza que
vendeu para a Natura,
hoje dirige a G4
Educação.
Não foram esses empresários que levaram à sua
arrancada. Mais importante foi o impulsionamento cruzado de cortes de seus
vídeos, desrespeitando a lei eleitoral, como denunciado - e acatado -
pela Justiça Eleitoral.
E, ainda, trapaças como aquela contada por Ana Luiza Albuquerque, Eduardo
Escolese e Flávio Ferreira, da “Folha de S.Paulo”, em que Marçal se valeu de um
homônimo de Guilherme
Boulos para disseminar a associação que fez entre o
candidato e a cocaína.
O que esta rede de pequenos doadores mostra é
que Marçal tem nadado de braçada no empreendedorismo sem ser acossado por
concorrentes. Um empresário que colaborou com Boulos chegou a sugerir uma
incubadora de startups, com apoio da prefeitura, que negociaria convênio com
universidades, forneceria água, luz, internet e isentaria os impostos
municipais. Até uma parceria com o pé-de-meia, programa federal de bolsas para
o ensino médio, poderia rolar. A proposta ficou no ar.
Além da ausência de concorrentes no tema,
joga a favor de Marçal o
discurso de que as ações contra sua candidatura podem vir a prejudicar o
mercado digital para além de sua treta eleitoral. Duas
gigantes do mercado, Google e X, entraram com embargos de declaração contra a
decisão que suspendeu os perfis de Marçal pelo medo do efeito cascata.
É no TSE que esta batalha deve findar. É nisso que
aposta o prefeito Ricardo
Nunes, que, em entrevista ao Valor publicada nesta
edição, insistiu no papel da Justiça Eleitoral a despeito de não tê-la
acionado.
Como Marçal tem avançado nas pesquisas de
maneira mais célere do que as ações, o mais provável é que uma decisão
desfavorável à sua permanência no jogo, se acontecer, venha apenas no fim da
campanha.
Tirar um candidato emergente da disputa tem um custo menor do que arrancar o líder que ele arrisca se transformar. A reação dessa rede de apoiadores, impulsionadores e influenciadores do marketing do empreendedorismo, dentro e fora da lei, abrirá uma frente de batalha que renovará a guerra entre justiça e política até 2026.
5 comentários:
Excelente coluna.
Que vergonha os jornalistas que deveriam ser os primeiros a defender a democracia e a liberdade de expressão são os que mais impulsionam a ideia da cassação da candidatura do Pablo Marçal
os tempos de hoje estão medonhos, não há mais Compromisso com a ética jornalística muito menos com a verdade, A maioria recebendo uma verba governamental , mas a história vai julgá-los no momento oportuno
Realmente, excelente coluna! É assustador empresários do setor Educacional apoiarem um candidato sabidamente criminoso, já condenado inclusive.
Com tantas notícias de que P.M. tem pendências na justiça de Goiás, ficou bilionário à custa de golpes financeiros nas redes sociais enganando pessoas fica difícil aceitá-lo. Um prefeito lida com verba pública. Isso é sério.
Empresários do atraso,diga-se.
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