Campanha eleitoral em São Paulo deixou a cidade de lado, em que pesem os esforços de Tabata Amaral
O que esperar de uma eleição como a da cidade
de São Paulo em 2024? Ela chega aos dias finais com três candidatos enrolados
entre si na ponta das pesquisas de intenção de votos. Correndo por fora, a
candidata mais promissora.
Os ponteiros não são iguais entre si, mas
pecam por características equivalentes. O deles, o fanfarrão, não interage com
ninguém, é contra o centro e a esquerda, despreza a democracia e tem muito
pouca coisa na cabeça. Concorre basicamente para perturbar a disputa e se
cacifar ou para voos políticos mais altos, ou para alavancar seus negócios
particulares.
Ricardo Nunes, prefeito atual, quer se mostrar um executor de obras pragmático, como cabe a um incumbente quando disputa a reeleição. Sua característica complicadora é que, sendo de centro, não consegue dialogar com a esquerda, campo com o qual tem relações atormentadas. Tem o apoio discreto de Bolsonaro, que, no entanto, não conseguiu manter sua tropa unida e pesa pouco na disputa.
Boulos, formalmente apoiado por Lula, veio do
PSOL com o objetivo de comer os votos petistas da capital e ganhar fôlego na
carreira, hoje limitada ao ativismo dos “sem-teto” e a um mandato inexpressivo
de deputado federal. Sua característica complicadora é não saber dialogar com o
centro, desprezá-lo e vê-lo sempre como estando à extrema direita. Sua falta de
flexibilidade e desejo é flagrante. Ele parece o tempo todo temendo a crítica
de seus companheiros de que seria uma “esquerda neoliberal”. Precisa posar de
radical e ao mesmo tempo de moderado, figurino incômodo para ele.
Sem diálogos intensos entre centro e
esquerda, uma cidade como São Paulo é ingovernável. Gestão urbana não se
resolve com estigmatizações, nem com ideologias. Ela necessita de realismo,
ideias e capacidade gerencial. Falar em “campo bolsonarista” para nele encaixar
Ricardo Nunes é tão nefasto quanto falar em “conluio de esquerdistas” para
incluir quem quer que seja. Pode servir para justificar uma intempestiva e
incompreensível campanha pelo “voto útil”, inofensiva em si mesma. Mais que uma
bobagem, é um equívoco político.
Tabata Amaral corre por fora. Cheia de
propostas, boas intenções e capacidade reflexiva. Ela dialoga com o centro e a
esquerda, e o faz sem preocupações ideológicas, mas sim em nome da produção de
consensos sustentáveis e de ações que blindem a democracia e promovam justiça
social. Jovem, carismática, inteligente, firme em suas posições e corajosa,
Tabata é o único destaque da eleição, a “novidade” que tantos aguardam.
Apesar disso e do amplo reconhecimento
público de que tem tido o melhor desempenho ao longo da campanha, ela se
ressente da falta de uma máquina potente e de apoios partidários consistentes,
que poderiam impulsioná-la. Compensa isso com ampla presença nas mídias sociais
e muitas caminhadas pelas ruas. Poderá não ser suficiente, mas mostra que está
no ringue e pode surpreender.
Vista em bloco, a eleição paulistana foi
medíocre do começo ao fim. Os candidatos mais fortes se encarregaram de
rebaixar as disputas, entrechocando-se sem cessar, artifício que os ajudou a
ocultar a falta de ideias e propostas, bloqueando o debate público democrático.
Salvo surpresas de última hora, o segundo
turno tenderá a seguir a mesma toada. Isso só não acontecerá se as urnas do
próximo domingo consagrarem um “terceiro termo” que mude a qualidade das
disputas. Quer dizer, se Tabata Amaral se projetar vitoriosamente.
*Cientista político brasileiro, doutor em
ciência política pela Universidade de São Paulo e professor de teoria política
na Universidade Estadual Paulista.
Um comentário:
Excelente análise! Parabéns ao autor, e ao blog por divulgar seu trabalho.
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