sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Congresso peleja com STF mas colabora com pauta do governo - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Pacote de votações foi destravado a despeito da decisão do ministro Flávio Dino sobre as emendas parlamentares

Foi apertado, mas a urgência do pacote fiscal passou. E não apenas. A Comissão Mista de Orçamento aprovou, no mesmo dia, o relatório da Lei de Diretrizes Orçamentárias. A votação em plenário, que deveria ter acontecido em julho, está prevista para o dia 18, liberando a votação do Orçamento entre Natal e Ano Novo. E, finalmente, a leitura do parecer sobre o projeto de regulamentação da reforma tributária foi marcada para segunda na Comissão de Constituição e Justiça com votação prevista na quarta.

Todo esse pacote de votações foi destravado a despeito da decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal, Flávio Dino, que reafirmou a necessidade de apresentação de um plano de trabalho ao Executivo como condição para a liberação das emendas Pix, o veto à camuflagem na autoria individual das emendas de comissão com a titularidade dos líderes partidários sobre as rubricas e a limitação dos montantes às regras do arcabouço fiscal.

O dissabor com as exigências, que colidem com a lei aprovada pelo Congresso em novembro, pressionou pela petição da Advocacia-Geral da União (AGU), protocolada na noite da terça-feira (3), questionando o despacho de Dino. A petição não tem prazo para ser apreciada por Dino, mas, ao apresentá-la, o governo respondeu às pressões dos parlamentares contra o despacho do ministro.

Pelas votações ocorridas no dia seguinte, é possível dizer que cumpriu o objetivo de apaziguar os ânimos, ainda que temporariamente, como a evasiva do ministro da AGU, Jorge Messias, no dia seguinte, o confirmaria: “Estamos falando de um processo em marcha, e não de um processo estanque.”

A visão, na AGU, é de que a liberação de R$ 8 bi do total de recursos bloqueados não dependia nem mesmo da petição, mas as votações aconteceram no fio do bigode, sem que os recursos tenham começado a chegar na ponta. Cada Poder tem uma conta diferente do montante de recursos que estariam represados, que varia de R$ 17,5 bilhões a R$ 30 bilhões.

Do outro lado da Praça dos Três Poderes, o ministro Flávio Dino já contabiliza duas votações unânimes do plenário em defesa de suas decisões no tema. O último despacho não foi submetido ao colegiado, mas Dino já conseguiu o referendo do colegiado a duas decisões suas relativas a quatro ações sobre o tema.

Dessa forma, quando o Congresso se insurge contra as decisões não está se rebelando contra Dino mas contra todo o Supremo. Os parlamentares protestam contra as decisões monocráticas da Corte, no que até podem ter razão, mas aí defendem que o ministro se insurja contra uma decisão do colegiado e, na canetada, mude o que foi decidido, que, nada mais é do que garantir que os princípios de rastreabilidade e transparência da execução orçamentária sejam respeitados.

O que parece mais provável é que o Executivo convença os ordenadores de despesas, ou seja, os ministros, a liberar uma parte dos recursos para garantir o pacote de votações do fim do ano e a questão atravesse todo o ano de 2025, com o argumento de que o Supremo não questionará os atos. Há controvérsias.

Os parlamentares dizem estar cumprindo as regras aprovadas no Congresso, que são bem mais fluidas, mas o despacho de Dino oferece inúmeras janelas de oportunidade para que o Ministério Público Federal, o Tribunal de Contas da União e a Controladoria Geral da União questionem se a liberação está cumprindo suas exigências da Corte. O mais provável é que se assista a um novo desfecho desse embate, que ainda não será definitivo, mais próximo das eleições de 2026.

O clima de revolta no Congresso com o represamento das emendas parlamentares não é unânime. Nicolas Damazio, contou, na “Globo Rural”, que uma comitiva de Brasília prestigiou , na noite de segunda (2), um leilão de cavalos num hotel de São Paulo em que foi batido o recorde no valor de uma transação do gênero com a venda de 50% de um cavalo Quarto de Milha por R$ 80 milhões.

Quem arrematou a banda do cavalo foi um criador do Rio Grande do Norte. Na audiência do leilão estavam o ministro Juscelino Filho (Comunicações), representante do União do Maranhão na Esplanada, os senadores Efraim Filho (União-PB) e Rodrigo Cunha (Podemos-AL), o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), sua mãe e pré-candidata ao Senado, Eudócia Caldas (PL), e seu pai, o ex-deputado João Caldas.

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