Folha de S. Paulo
Conflito distributivo chega às vias de fato
com reação de juízes, procuradores, militares
Justiça e
Ministério Público passaram a bater em público na tentativa do governo de
conter supersalários, parte do pacote Lula-Haddad. No fundo, é mais
um movimento de resistência a tantas tentativas de limitar penduricalhos que
elevam a despesa com servidores. É mais uma reação à tentativa de limitar
gastos com Legislativo, Judiciário e Ministério Público, não apenas na esfera
federal, instituições que despendem relativamente mais que seus pares em outros
países. É outra manifestação dos mais ricos contra planos de arrumar as contas
dos governos. A mesma gente que pede "responsabilidade
fiscal" e pimenta nos olhos dos outros.
O conflito distributivo mais e mais chega às vias de fato, pois as contas públicas estão em situação crítica e, de resto, apareceu um governo que, mal ou muito mal, quer fazer o dito ajuste também tirando dinheiros de ricos.
Em junho, estourou de vez a revolta contra os
impostos de Fernando
Haddad. Foi o
protesto furioso contra a mexida no PIS/Cofins. Desde o final
de 2023, graças em parte a medidas desastradas do governo, havia revolta contra
o fim das desonerações (reduções) de impostos sobre a folha de pagamentos e
para empresas do setor de eventos, cultura etc. (Perse). O projeto de aumentar
imposto vai para o vinagre.
A mexida nos supersalários dos servidores nem
vai arrumar grande dinheiro. Ainda assim, é preciso catar qualquer moeda a fim
de dar um jeito nas contas. Sem mais receita, não haverá acerto fiscal.
Economistas criticaram a ideia de
isentar do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 mensais porque
temem buraco ainda maior nas contas do governo. Isto é, seja por erro técnico
do projeto tributário do governo, seja por omissão do Congresso, a tributação
sobre ricos não compensaria o rombo da isenção. Mas muita gente quer mesmo é
apenas derrubar a tributação sobre ricos, um acinte de pequena e injusta.
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Na presente situação, seria necessário cobrar
mais dos mais ricos e não isentar ninguém. Em vez de o governo tomar emprestado
a juros reais de 7% ao ano a fim de cobrir o déficit, o governo arrecadaria um
pouco mais e tomaria emprestado um pouco menos.
Diminuir as isenções de impostos ("gasto
tributário") é necessário. Note-se que a arrecadação possível com o corte
de desonerações é menor do que diz a conta da Receita e o dinheiro não vai
apenas "para o agro" ou "ricos"; além do mais, essas
isenções engordaram nos anos petistas. Ainda assim, é urgente. Vai levar
tempo para a reforma tributária abater o excesso de favores com impostos. O
governo, porém, não consegue cortar nem as isenções marcadas para morrer, por
lei. A elite econômica quer sair de fininho do baile do ajuste.
Não haverá conserto sem que se mexa também
na despesa da
Previdência (INSS), que é 42% do gasto federal e cresce ao ritmo real de 4,1%
ao ano mesmo se excluídos gastos com precatórios. Cresce muito
mais do que o PIB. A médio prazo, a receita tende a crescer no ritmo do PIB.
Logo, a despesa previdenciária vai esmagar as demais, a não ser que a carga
tributária cresça sem limite. Lula 3
não quer mexer no reajuste dos benefícios previdenciários.
Governo e esquerda não têm noção do tamanho
do problema. Ricos e direita já se animam com a ideia de um ajuste à moda
de Javier Milei, motosserra no couro do povo.
É um conchavo social suicida.
Um comentário:
Pimenta nos olhos dos outros é refresco.
😏😏😏
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