O Estado de S. Paulo
Para o mercado, tudo é um desastre; na vida real, milhões de brasileiros saem da miséria
No mesmo dia, a pesquisa Genial/Quaest e o
IBGE nos confirmaram duas realidades: no setor financeiro, que detesta o
presidente Lula, 96% consideram que a economia vai mal; milhões de brasileiros,
porém, vêm sendo tirados da miséria pelos programas sociais e justamente pelo
aquecimento da economia, do emprego e da renda.
Sim, a inflação ultrapassou a meta, os preços absurdos são um dos grandes temas nacionais, os juros vão continuar subindo e Lula tem dificuldade com equilíbrio fiscal e em assimilar a importância do corte de gastos para os pobres, o País e o sucesso do seu governo. Tudo isso é verdade, mas a economia está tão desastrosa como diz o mercado?
O PIB surpreende positivamente desde o início
do governo, cresceu 0.9% no último trimestre e, pelas novas projeções, pode
chegar a 3,4% em 2024. Isso impacta a geração de emprego e renda, criando um
círculo não exatamente virtuoso, mas animador. O desafio é conter inflação e
juros, acalmar o mercado e baixar o dólar.
Há que admitir também que o Brasil é um dos
campeões de desigualdade social e qualquer governo, não só os de esquerda ou
centro-esquerda, tem a obrigação política, moral e histórica de atacar com
firmeza o maior problema do Brasil, que é uma das dez maiores economias, com
condições naturais invejáveis.
Foi para tentar equilibrar esses dois mundos,
do dinheiro e da pobreza, que o ministro Fernando Haddad demorou meses para
fechar o pacote de corte de gastos. Sob intensa pressão de todos os lados, ele
buscou o pragmatismo, mas mantendo o que chama de “olhar humanitário”,
exigência de um país como o Brasil e compromisso de Lula.
Pela Quaest, 90% acham que o governo vai mal,
a aprovação de Haddad recuou de 50% para 41% e 58% acham o pacote
insatisfatório. Ou seja, está tudo errado... Mas, pelo IBGE, o Brasil teve em
2023 os menores níveis de pobreza desde 2012, início da série histórica. Ainda
são 59 milhões de pobres e 9,5 na extrema pobreza, mas com redução de 8,7 e 3,1
milhões em um ano. Falta muito, mas o País avança.
O risco político de Lula é, independente da
realidade, desagradar aos dois polos: o mercado, que não aceita, por exemplo, a
isenção de IR até R$ 5 mil e – quem sabe? – o aumento para acima de R$ 50 mil;
e o pobre, a classe média e, afinal, todo mundo que detesta cortes sociais e
sair da feira ou supermercado com a sacola ou o bolso vazio.
Há criticas e calibragens a fazer e dúvidas quanto às votações no Congresso. Daí tudo ser um desastre e o Brasil não ter jeito embola ganância, ignorância, ideologia e interesses variados. Calma! Nem tanto ao ar, nem tanto à terra.
3 comentários:
A ganância e ignorância dos mercados.
O fetiche do mercado é subtrair do andar de baixo.
Excelente coluna! O Mercado não vê pobres e miseráveis, e nem se interessa por eles, pois eles não são consumidores que possam pagar por produtos mais valiosos que dão mais lucro ao Mercado.
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