sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Os quepes pelos coturnos – Ruy Castro

Folha de S. Paulo

A obsessão pelas siglas e abreviaturas em seus comunicados pode ter frustrado o golpe dos militares

Woody Allen contou certa vez que a Revolução Russa, que já era para ter acontecido desde o encouraçado Potenkim, em 1905, só se realizou, em 1917, depois que os bolcheviques descobriram que o czar e o tzar eram a mesma pessoa. É no que dá depender de siglas e abreviaturas para definir alguém ou alguma função.

Os militares, por exemplo, abusam desses recursos em suas comunicações, seja por cacoete profissional ou para manter suas intenções a salvo de paisanos enxeridos. Foi o que pode ter se voltado contra eles na sua mais recente tentativa de golpe de Estado. Usaram tantas abreviaturas e siglas em tantas trocas de comunicados que acabaram metendo os quepes pelos coturnos e o golpe lhes saiu pela culatra.

A ideia era manter o PR [Bolsonaro, presidente da República] no poder através de uma GLO [Garantia da Lei e da Ordem] armada pelas FEEs [Forças Especiais do Exército, vulgo kids pretos], com a colaboração do BAC [Batalhão de Ações e Comando] e do CopEsp [Comando de Operações Especiais]. O start seria dado por uma CCEOSAEB [Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro], assinada por 36 gens, altes e TBs [generais, almirantes e tenentes-brigadeiros] e acoplada à OpPsico [Operação Psicológica] a cargo do 1º Bop Psc [1º Batalhão de Operações Psicológicas].

As informações seriam fornecidas pelo CIE [Centro de Informações do Exército] e pela Abin [Agência Brasileira de Inteligência], a partir do RESEVMD [Relatório do Sistema Eletrônico de Votação do Ministério da Defesa], justificando a Operação 142 [uma distorção do artigo 142 da Constituição]. A articulação seria da SGP [Secretaria-Geral da Presidência] e o governo seria entregue ao GIGC [Gabinete Institucional de Gestão da Crise], comandado pelo chefe do GSI [Gabinete de Segurança Institucional] Augusto Heleno e pelo VP [vice-presidente Braga Netto].

O PVA [Punhal Verde Amarelo] parecia um plano perfeito. O que faltou? Uma leitura mais atenta do GLTEPUNE [Glossário de Termos e Expressões Para Uso no Exército] e combinar com o fdp do GFG [general Freire Gomes].

 

7 comentários:

Mais um amador disse...

Hahahahahah

Sensacional !

( Estava na torcida para que fosse postado aqui. )

ADEMAR AMANCIO disse...

Se tivesse dado certo não seria chamado de golpe e sim revolução.
Sei.

Anônimo disse...

E ainda tem muita gente que acha que os EUA teriam mandado um grupo de altos oficiais do Departamento de Estado, CIA e Departamento de Defesa para pressionar os militares e impedir o golpe. Com certeza eles sabiam deste cipoal de siglas e decidiram deixar pra lá, só amadores, vai dar em nada.

laurindo junqueira disse...

Os EUA, há uns 5 anos, voltaram a dispor uma frota específica no Atlântico Sul, retomando o que fizeram durante a II Guerra Mundial, em 1943. Além do mais, ele construíram duas bases aéreas em Asunción del Paraguay. E alguém acha que eles não interferem em nada nas nossas Forças "Arnadas"?

Anônimo disse...

Existe um anônimo aí em outras páginas que diz que Trump já tem dois caças militares prontos para vir sequestrar Alexandre de Moraes e levá-lo a ser julgado pela Suprema Corte americana e lá ser condenado e posto a ferros no xadrez.
Pode ser, só não entendi porque seriam necessários dois caças.
Deve ser porque um pode abortar o operação, copiado?

Anônimo disse...

Os EUA interferem no Brasil, em todos os níveis: cultural, tecnológico, político, chegando até ocupar base aérea no nordeste durante a segunda guerra. No campo militar evidente que interferem mas não perderiam tempo vindo aqui, pressionar nossas FFAA bastaria um e-mail de dez linhas para desmontar um golpe tupiniquim como este.

Daniel disse...

Muito boa coluna! Divertidíssima! kkkkkkkkkkkkk