DEU EM O GLOBO
Investimento, considerado economicamente inviável, iria para geração térmica e serviria como um seguro-apagão
Investimento, considerado economicamente inviável, iria para geração térmica e serviria como um seguro-apagão
PINGUELLI, ZIMMERMANN, Collor, Resende, Hubner e Chipp, durante audiência pública no Senado, que discutiu o apagão do dia 10: autoridades concordam que curtos-circuitos na linha de Furnas causaram blecaute
BRASÍLIA. Para garantir maior confiabilidade ao abastecimento elétrico brasileiro, seriam necessários investimentos adicionais de R$7,2 bilhões ao ano na manutenção de um sistema de geração térmica, que funcionaria como um seguro-apagão. A informação foi dada ontem pelo diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, em audiência pública no Senado, ao lado de outras autoridades do setor elétrico. Foi a primeira iniciativa do Parlamento para discutir as causas do apagão do dia 10 de novembro, que colocou às escuras 18 estados por até cinco horas.
Esse sistema alternativo teria de ser capaz de gerar 4 mil megawatts (MW) e, assim, garantir o fornecimento no caso de uma pane na usina de Itaipu. Essa é a quantidade de energia que chega à subestação de Tijuco Preto (no interior de São Paulo) pelas linhas de transmissão que foram atingidas pelo curto-circuito no último blecaute.
Senador afirma que sistema é vulnerável
Para Chipp, porém, esse sistema de backup é inviável economicamente e seu custo acabaria repassado para as tarifas:
- Imagine o que é gerar R$600 milhões (ao mês) de custo para prover um sistema de segurança de uma situação que nunca aconteceu. Isso é antieconômico. Para evitar essa contingência de probabilidade remotíssima, não se espera que você gere um custo desses - afirmou, em audiência pública conjunta das comissões de Assuntos Econômicos e de Infraestrutura. Também participaram da audiência o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson Hubner, o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, e o professor da Coppe/ UFRJ Luiz Pinguelli Rosa.
A exposição das autoridades do setor convergiu em apontar como provável causa do blecaute os curtos-circuitos na linha de transmissão de Furnas. Chipp descartou a hipótese de atentado ou sabotagem.
O diretor da ONS informou que a entrega do Relatório de Análise de Perturbação (RAP) sobre o blecaute deverá ser antecipada para a próxima semana, apesar de o prazo dado pelo Ministério de Minas e Energia só terminar em 15 de dezembro. O texto será encaminhado ao Comitê de Monitoramento do Sistema Elétrico (CMSE) e trará a conclusão dos técnicos do ONS.
- Temos 30 dias dados pelo ministro, mas, pela relevância e pela importância, estamos fazendo todos os esforços para entregar na próxima sexta-feira, dia 4 - disse Chipp.
Apesar das afirmações de que o apagão foi um evento raro e que o sistema elétrico é robusto, os senadores saíram do encontro intranquilos.
- Foi demonstrado que estamos sujeitos a problemas novamente. O sistema interligado nacional é vulnerável, o que não nos dá tranquilidade - afirmou o senador Eliseu Resende (DEM-MG).
Pinguelli: governo não pode se isentar de responsabilidade
O diretor do ONS afirmou que os investimentos feitos nos últimos anos evitaram a ocorrência de blecautes como os de 1999 e 2002, que, segundo ele, tiveram uma dimensão bem maior do que o deste ano. Ele também reafirmou que as causas do último incidente são inéditas:
- Os investimentos evitaram que se propagasse como 1999 e 2002, quando as contingências foram menos severas e os efeitos mais severos. (Aconteceu uma) contingência que eu, com 40 anos de profissão, nunca vi igual.
Luiz Pinguelli Rosa, da Coppe/UFRJ, alertou que, apesar de o problema não ter sido causado por falta de investimentos, o governo não pode se isentar de responsabilidades.
- Há necessidade de se esclarecer o que aconteceu e reconhecer que temos vulnerabilidades que exigem atenção. Não podemos nos acomodar nessa situação.
O diretor da Aneel disse que só depois de receber o relatório técnico sobre as causas do blecaute, o órgão irá sugerir as medidas mais adequadas para evitar situação similar no futuro. Pontos como as condições de operação, os registros históricos de manutenção e ocorrências, a adequação aos critérios e a operação do sistema de forma segura, entre outros, serão verificados pela agência.
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