Partido pode entregar um dos seus, mas fará tudo para ficar no governo
Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti
BRASÍLIA. A estratégia montada pela cúpula do PMDB para esvaziar a crise política envolvendo o partido inclui a possibilidade de eventualmente entregar algum partidário envolvido em irregularidades, para preservar a aliança com o governo e a figura do vice-presidente Michel Temer. Após várias reuniões realizadas ontem pela cúpula do partido, alguns peemedebistas adiantaram que não pretendem blindar ninguém.
- O PMDB não pretende blindar ninguém se houver a confirmação de alguma irregularidade. Mas não vamos aceitar que o erro de uma pessoa com CPF seja debitado na conta de quem tem CNPJ. Não teremos dificuldades de apoiar qualquer investigação, mas não aceitaremos marquetagem em cima do PMDB, assim como fizeram com o PR - adiantou um peemedebista com cargo no governo.
Em reunião de emergência no gabinete do próprio Temer, os caciques do partidos avaliaram que, para evitar o risco de o PMDB se transformar no próximo alvo da "faxina" da presidente Dilma, seria necessário demonstrar unidade política e dar resposta imediata às denúncias envolvendo o Ministério da Agricultura - daí a ida do ministro Wagner Rossi hoje à Câmara.
Na reunião, os peemedebistas disseram que a presidente Dilma tem dado tratamento adequado ao partido. E reconheceram que, se o PMDB não tivesse tanta força na Câmara e no Senado, teria recebido tratamento semelhante ao do PR quando estourou a crise no Ministério dos Transportes. Além do próprio Temer, foram chamados para a reunião os ministros Edison Lobão (Minas e Energia) e Nelson Jobim (Defesa), os senadores Romero Jucá (PMDB-RR), Renan Calheiros (PMDB-AL) e Valdir Raupp (PMDB-RO), o líder na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), entre outros.
A preocupação entre os governistas, em especial o PT, é com a possibilidade de o PMDB tentar desviar o foco de uma eventual investigação sobre Rossi, obrigando o governo a ampliar ainda mais o âmbito da faxina promovida por Dilma. Uma das hipóteses cogitadas seria a de o partido fazer corpo mole hoje na reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, deixando que a oposição aprove um requerimento de convocação do petista Expedito Veloso, que poderá ressuscitar o escândalo dos aloprados.
- O PMDB deverá usar todos os instrumentos de que dispõe para colocar o governo contra a parede, se o partido virar alvo da faxina de Dilma - advertia ontem um senador petista
Além da crise que ronda o Ministério da Agricultura, o PMDB vive ainda uma incógnita em relação ao futuro do ministro da Defesa, Nelson Jobim. Ontem à noite, ele foi convocado para uma audiência com a presidente Dilma Rousseff na manhã de hoje. Na semana passada, Dilma ficou contrariada com a afirmação do ministro de que votou no tucano José Serra, em 2010.
Ontem, assessores do Planalto interpretavam como uma "declaração de amor" os elogios à presidente feitos por Jobim em entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura. Mas também admitiam que a situação dele é desconfortável.
FONTE: O GLOBO
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