Broncas de Dilma e rumor de mexida na poupança causam alvoroço no mercado, que derruba juros
Está uma confusão de fim de feira no mercado financeiro. O tumulto reflete a política econômica, que parece casa em dia de mudança. Ontem foi mais um dia de corre-corre.
Caíram bem as taxas de juros para grandes operações (taxas futuras, "básicas" do mercado). O dólar deu outro salto. O pessoal do mercado jogava fora seus modelos de previsão de juros como quem larga folhas velhas de alface na calçada da feira.
A perspectiva de anúncio iminente de alteração no rendimento da poupança detonou o movimento. Os juros da poupança são um piso para a taxa básica da economia, a Selic, aquela para a qual o BC define uma meta a cada mês e meio.
Na prática, essa taxa define mais ou menos o custo de o governo tomar empréstimos e é a base do custo do dinheiro para instituições financeiras (que captam recursos a fim de reemprestá-los).
O BC não pode baixar a Selic para um nível próximo (e muito menos inferior) ao do rendimento da poupança, pois, grosso modo, nesse caso ninguém mais emprestaria nem para governo nem para bancos. Deixaria o dinheiro na poupança (cujos fundos majoritariamente devem financiar imóveis).
Nessa hipótese teórica, no limite o mercado de empréstimos entra em colapso e o governo fica sem financiamento para seu deficit.
Voltando ao início da nossa conversa: se o governo indica que vai mexer no rendimento da poupança, mesmo em ano eleitoral, isso é sinal de que a taxa básica de juros, a Selic, pode cair abaixo dos atuais 9%.
A partir de abril, em conversas reservadas e por meio de seus comunicados, o BC já dava sinais de que poderiam ocorrer cortes extras na Selic. Desmontava assim a ideia, insinuada por ele mesmo, BC, de que os juros não viriam abaixo de 8,75%, se tanto.
Mas a campanha cada vez mais estridente de Dilma contra juros & bancos e o rumor da mexida na poupança, que subiram de tom no feriadão, causaram alvoroço. Começa a se dar de barato que os juros cairão a 8,5%. Com mexida na poupança, há até quem aposte em Selic a 8%.
No entanto, nas previsões de mercado e mesmo nas oficiais, a inflação sobe de novo até 2013, o que pediria Selic estável até o fim de 2012 e em alta em 2013. Mas tal prognóstico foi abandonado como a alface murcha do fim da feira, pois o governo interfere muito mais na economia.
As previsões de dólar mais ou menos estável em torno de R$ 1,80 foram, por ora, para o caixote das laranjas passadas. O dólar belisca o preço de R$ 1,93. Por quê?
O BC faz alguma força para desvalorizar o real. A incerteza sobre o rumo da política econômica e da inflação dá uma mãozinha.
O azedamento da situação europeia e, quiçá, no resto do mundo aumenta a aversão a risco (investir em real ainda é risco maior do que investir em dólar).
A queda da Selic é a cereja do bolo da desvalorização. Quando diminui a diferença entre os juros do Brasil e os de EUA, Europa e Japão, fica menos atrativa a especulação com real. Compra-se menos real (ou se acredita em menos compras), cai o valor da nossa moeda.
Sim, a política econômica mudou de endereço, para longe. E o mercado ainda não sabe onde remontar suas barracas.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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