Enfim tucanos mineiros e paulistas concordaram em alguma coisa. Ou quase: uma eventual candidatura presidencial de Geraldo Alckmin, em 2014, ajuda tanto a José Serra, candidato a prefeito de São Paulo, quanto a Aécio Neves, candidato a presidente da República.
Em São Paulo, a manifestação de Alckmin sinalizaria que José Serra, se eleito, cumprirá o mandato até o fim. Como se recorda, ele deixou a prefeitura em 2006 para disputar e ganhar o governo do Estado. A desconfiança de que Serra repetirá o gesto seria uma das causas do alto índice de rejeição do tucano duas vezes candidato a presidente.
O curioso é que o anúncio de Alckmin foi mais comemorado em Minas Gerais. "O Alckmin está engajadíssimo", conta um dos mais próximos articuladores da candidatura Aécio no Congresso. Sem deixar de citar Tancredo Neves, como fazem os mineiros em geral - o interlocutor repete como um dogma: "Candidato não pode ficar na chuva, porque senão vira foco dos adversários".
PSDB de Minas planeja campanha dura contra Dilma
Serra, o PSDB mineiro considera carta fora do baralho e agora até afirma torcer por sua vitória em São Paulo, porque isso representaria a consolidação da democracia brasileira, ao manter um partido de oposição numa grande cidade do país.
Mas é bom não esquecer de Geraldo Alckmin, que em 2006 teve um desempenho até melhor do que Serra, em 2010, no primeiro turno da eleição. Com jeito que parecia o de um mineiro, Alckmin sinalizou que pode ser candidato outra vez Em 2014, numa reunião de governadores do PSDB. Se nenhum outro nome do partido se viabilizar à indicação, ele disse: "Nós traremos o quadro do Rodrigues Alves de volta para o gabinete". Quando governou o Estado pela primeira vez, Alckmin mantinha um retrato de Rodrigues Alves (1902-1906), na parede de seu gabinete, como uma espécie de fonte de inspiração.
Não há por que duvidar da vontade de Alckmin de ser presidente. Faz parte do quebra-cabeças. Ninguém esquece que, em 2006, ele fincou o pé e desbancou a candidatura de José Serra. Simplesmente não abriu mão de ser candidato e argumentou que chegara sua vez na fila. Alckmin também se gabava de não perder eleições. Mas também não se pode esquecer que Alckmin está em seu primeiro mandato de governador e nada impede que reivindique a reeleição.
Em Belo Horizonte, Aécio trabalha com empenho para ser o indicado pelo PSDB. Seu discurso de campanha está articulado e já vem sendo repetido pelos aliados. Reconhece que a popularidade da presidente Dilma Rousseff continua muito alta. Mensalão, CPI do Cachoeira, crise econômica, nada disso afetou seu prestígio com o eleitor. A presidente caiu alguns pontos nas pesquisa, mas continua com um patamar muito confortável. É a análise.
Mas para os mineiros engajados na campanha o candidato do PSDB será Aécio Neves, em qualquer situação. Para perder, se a economia estiver em alta e se preparar para a eleição seguinte, ou para subir a rampa do Palácio do Planalto, se a economia for mal das pernas.
Pelo que se fala no arraial aecista, será uma campanha dura. O mínimo que se diz lá é que ela não entende nada de política. Dilma pertenceria a uma família política da qual fazem parte José Serra e Antonio Anastasia, o atual governador de Minas. Do contrário, não entraria numa empreitada em que 16 partidos de sua base parlamentar estão com a campanha à reeleição do prefeito Marcio Lacerda (PSB) - além dos três da oposição (PSDB, PPS e DEM).
Para os tucanos de Minas a presidente da República "cismou" que pode ganhar, talvez convencida pela cúpula do PT. E se Lula, com seu prestígio, entrar na candidatura de Patrus Ananias? Os aliados de Aécio lembram que Lula entrou na campanha de Hélio Costa ao governo do Estado e perdeu; entrou na campanha de Fernando Pimental e novamente perdeu para Antonio Anastasia, e "até o Serra ganhou da Dilma na capital, diz aliado de Aécio.
Não há hipótese de Aécio não sair candidato em 2014, dizem políticos do seu grupo. E pelo tom adotado, pode-se esperar por uma campanha renhida, se os dois candidatos forem Dilma e Aécio. Os tucanos mineiros, por exemplo, já começaram a campanha dizendo que a inserção de Dilma Rousseff em Minas Gerais é nenhuma.
"Ela tem um certidão de nascimento de Minas, mas a identidade dela é gaúcha", dizem os aecistas. "O que ela gosta mesmo é de churrasco e chimarrão, e nada de cafezinho e pão de queijo. Ela tem oito ministros gaúchos. Mineiro, só um. E ainda assim da cota pessoal. Então, que mineira é essa"?
Como se trata de política mineira, não poderia faltar uma boa dose de intriga: "Por que ela está comprando essa briga? Eu não consigo compreender. Ela teria todos os motivos para apoiar o Marcio, que é do PSB", diz um estrategista da campanha de Aécio. "Eu acho que é Rui Falcão (o presidente do PT)". Os tucanos de Minas chegam até a levantar a suspeita de que o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), inclusive, não teria nenhum interesse na eleição do Patrus. O certo é que Dilma mandou Pimentel ajudar na campanha de Patrus Ananias.
Aparentemente, o rompimento da aliança em Belo Horizonte (que incluia PSDB, PSB e o PT) deixou o PSDB mais desconcertado. Um tucano de primeira linha reconhece que os petistas tomaram uma boa decisão, ao escolher Patrus Ananias. Os partido esperava a indicação de Roberto Carvalho, que é vice do atual prefeito e que já havia sido escolhido em convenção partidária. "Nós iríamos dar uma balaiada". Com Patrus Ananias, a eleição será certamente mais disputada.
Com Roberto Carvalho, o senador Aécio Neves poderia se expor menos na eleição para prefeito de Belo Horizonte. É voz corrente, entre seus partidários, que uma eventual derrota na capital do Estado também deixará Aécio desgastado na disputa pela indicação do PSDB a presidente. Manchete certa dos jornais no dia seguinte: "Aécio perdeu na capital".
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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