A fase decisiva dos pleitos de outubro próximo nos grandes centros urbanos, desencadeada ontem pelo horário eleitoral “gratuito”, vai desenvolver-se sob a influência do processo do mensalão, num grau bem maior do que o previsto pelas lideranças do PT. E, por isso, com potencial de efeitos contra candidatos do lulopetismo igualmente mais amplos que os esperados por elas. Efeitos também negativos, em escala menor, para o governo, dos quais a presidente Dilma tem conseguido distanciarse, ao mesmo tempo em que trata de neutralizá-los com a “agenda positiva” de uma série de medidas econômicas, iniciada com o pacote de concessões à iniciativa privada de rodovias e ferrovias (mal) geridas pela União. “Agenda” assim avaliada pelo jornalista Elio Gaspari, em sua coluna na Folha de S. Paulo e no Globo, do último domingo: “Estrago – O alto comissariado petista já admite que o julgamento do mensalão custará mais caro do que supunha. Para correr atrás do prejuízo, depois da festa das concessões, o partido precisa pedir à doutora Dilma que anuncie a descoberta do moto contínuo, do elixir da felicidade e da fonte da juventude”.
Dois ingredientes adicionais da conjuntura são, de um lado, a CPI do Cachoeira (articulada pelo ex-presidente Lula como antídoto ao mensalão) e que, mesmo esvaziada, o PT trata de estendê-la, com o objetivo principal de desgastar o PSDB através do governador de Goiás, Marconi Perilo. De outro lado, a persistência das greves de várias categorias do serviço público federal (agravada agora pela paralisação dos funcionários da Polícia Federal), em choque direto com a presidente da República e com significativas consequências econômicas e sociais.
E, como último dos fatores alinhados no título deste texto pela influência que podem ter nas eleições municipais, a continuidade de elevadas taxas de aprovação da presidente Dilma e de reiteração do prestígio de Lula. Taxas que os petistas explorarão ao máximo para reforçar ou dar competitividade aos candidatos da legenda e às chapas de alianças por ele controlados.
O peso que terão efetivamente esses ingredientes e fatores, em especial os dois mais importantes – o julgamento do mensalão e a alta popularidade da atual e do expresidente – só poderá ser bem avaliado lá pela metade da nova fase das disputas para o pleito de outubro (o 1º turno marcado para dia 7 e o 2º, para o dia 28). A intensa e ostensiva atuação de Lula em favor das candidaturas do PT que considera prioritárias e o empenho seletivo de Dilma em prol daquelas, como a de Belo Horizonte, que trata como mais importantes, combinados os dois com o uso da influência e de ações político-administrativas da máquina federal, conseguirão (cabe a pergunta) reverter, nesta fase, a precariedade revelada até agora pela maior parte dessas candidaturas – em São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Aracaju, Fortaleza, Manaus, no Recife diante do avanço do candidato do governador Eduardo Campos, bem como em cidades de grande porte e muito disputadas, como as paulistas Campinas, Santos, Osasco? Desafio para o qual o marketing da transferência aos candidatos da popularidade dos dois poderá ter seus dividendos reduzidos – sobretudo nos grandes centros do Sudeste e nas capitais de estados das outras regiões, pelo impacto do mensalão na mídia, inclusive no rádio e na TV.
Cujo julgamento, independentemente da duração e dos resultados finais, vai confirmando para a população as linhas básicas das denúncias do Ministério Público e do acolhimento delas pelo relator do processo no STF, ministro Joaquim Barbosa, da montagem de uma “organização criminosa”, destinada a viabilizar o controle do Congresso pelo Executivo, envolvendo o desvio de recursos públicos, vultosos, e comandada pelo então chefe da Casa Civil, e principal liderança do PT, José Dirceu. Confirmação que pôs em xeque o conjunto das defesas dos réus e o verdadeiro objetivo delas: a redução dos “crimes” à prática de um Caixa 2, relacionada a financiamento exclusivo de agentes privados a campanhas eleitorais. A repercussão popular desse julgamento teve sua primeira medida – pouco depois do início dele – em pesquisa nacional do Datafolha. Dados do levantamento que mereceram destaque na publicação dos resultados, na Folha de 12 de agosto: “A maioria dos brasileiros (73%) defende a condenação dos principais réus do mensalão, mas só um em cada dez acredita que eles serão presos ao fim do julgamento”; “Os números se invertem quanto à hipótese de absolvição dos réus. Apenas 5% torcem para que eles sejam inocentados...”; “De acordo com a pesquisa, quatro em cada cinco brasileiros (82%) acreditam que o mensalão foi um caso de corrupção que envolveu o uso de dinheiro público para comprar votos no Congresso”.
Jarbas de Holanda é jornalista
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