O Planalto ordenou punição exemplar aos policiais rodoviários federais que colocaram uma placa dando "passagem livre" ao tráfico de drogas e armas na Via Dutra anteontem. A provocação dos grevistas será investigada. Serão cortados R$ 20 milhões em ponto.
Governo anuncia "punição exemplar" à PRF
Policiais podem ser demitidos. Corte de ponto de servidor desconta R$ 20 milhões, e IBGE é mais afetado
Cristiane Bonfanti, Junia Gama
BRASÍLIA. Irritado com a postura dos grevistas, o governo federal decidiu aplicar uma "punição exemplar" aos policiais rodoviários federais que colocaram uma placa permitindo passagem livre para tráfico de drogas e armas na Via Dutra anteontem. O Palácio do Planalto vai abrir processo de investigação que pode resultar na demissão dos envolvidos. Na avaliação do governo, o caso é ainda mais grave do que o das operações realizadas nas fronteiras e, se não houver punição, a situação pode sair do controle. A avaliação do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, é de que os policiais rodoviários podem fazer manifestações, mas não usar seu cargo de forma abusiva para conseguir ganhos salariais.
De braços cruzados desde segunda-feira, os agentes da PRF querem a equiparação com os agentes da Polícia Federal - o salário inicial passaria de R$ 5,8 mil para R$ 7,5 mil. Reni Rocha, vice-presidente do sindicato da categoria no Distrito Federal, informou que, ontem, pelo menos 15 agentes colocaram cargos de chefia à disposição de seus titulares no Distrito Federal como protesto.
- Amanhã (hoje), haverá uma reunião com o governo. Se não houver uma proposta, vamos estender a greve para todo o país - avisou o sindicalista.
Ontem, o governo divulgou o detalhamento do corte do ponto, que atingiu 11.495 servidores do Executivo que fizeram paralisações ao longo do mês de julho. O número corresponde a 2% dos 571,8 mil funcionários em atividade. Foram afetados, principalmente, trabalhadores das administração indireta (em órgãos como agências reguldoras e autarquias), com 8.079 pessoas que cruzaram os braços por um ou mais dias no mês passado. Diante da medida, a Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef) anunciou que vai entrar com pedido de liminar no Supremo Tribunal Federal contra o corte integral.
O valor total dos descontos dos parados soma R$ 20,6 milhões, segundo o Ministério do Planejamento. O maior corte se deu no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), onde 3.379 servidores do órgão fizeram greve por um ou mais dias em julho. A mobilização impediu, inclusive, a divulgação completa da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) no mês passado, que saiu sem informações do Rio.
Para grevistas, governo foi radical
Segundo a Condsef, em greves anteriores, o corte se referia a, no máximo, sete dias, mas desta vez há servidores que estão com os contracheques zerados. A confederação defende que o governo deveria negociar reposições, em vez de adotar medida tão radical. O Ministério do Planejamento informou que essa possibilidade está prevista apenas para professores das universidades federais, que já fecharam acordo com o governo. Os reitores deverão entregar ao Ministério da Educação, até o próximo dia 31, um plano de reposição das aulas.
Mas o que causou tumulto em frente ao Palácio do Planalto ontem foi uma manifestação de trabalhadores do campo, lideradas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Manifestantes derrubaram uma grade de ferro usada para conter multidões na Praça dos Três Poderes. Para controlar a situação, a Polícia Militar (PM) chegou a usar spray de pimenta. Após a confusão, um grupo de camponeses entregou uma carta com reivindicações ao ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho.
- Queremos colocar para os Três Poderes que eles precisam compreender a importância da reforma agrária para o desenvolvimento econômico e social do Brasil - disse William Clementino, secretário de política agrária da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), que reivindicava melhores condições de trabalho.
FONTE: O GLOBO
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