Já tem ambições e confusões de bom tamanho na agenda de agosto do governo para a presidente da República se ocupar do que se passa do outro lado da Praça dos Três Poderes, onde o STF seguirá julgando a Ação Penal nº 470, vulgo mensalão. Em sua indiferença calculada pelo assunto, ela não deixou de expressar irritação com as versões de que as medidas que está preparando seriam um diversionismo, havendo a oposição até falado em PAC do mensalão. Como estão sobre a mesa negócios da ordem de R$ 30 bilhões, seria um baita crime de peculato lançar o pacote só para desviar atenções.
A economia brasileira teve o pior desempenho, entre os cinco países do grupo Brics, no primeiro semestre deste ano. Decepcionou aqui e lá fora. Dilma continua popular, como revelou a pesquisa CNT-Opinião, mas precisa salvar o segundo semestre e evitar que a crise chegue forte ao indicador do nível de emprego. A mesma pesquisa, por sinal, informou que 70% dos consultados votariam em Lula em 2014. Seria um sinal comparativo? Sabe-se lá.
Dilma Rousseff está coordenando pessoalmente as novas medidas de alavancagem da economia, agora com foco no investimento. Para a Fiesp ou para José da Silva, um brasileiro, a promessa mais importante é a de redução da tarifa de energia, mas esse não é um presente fácil de se entregar.
Os governadores já andam muito insatisfeitos com um governo que, no dizer deles, vive fazendo cortesia com o chapéu alheio. Com o deles, sobretudo. Quando reduz impostos para estimular a economia, Dilma morde no caixa do Fundo de Participação dos Estados, o FPE, cuja repartição eles já vêm tentando mudar no STF. Já não conseguiram o compartilhamento geral dos royalties do petróleo do pré-sal. E agora, dona Dilma pensa em reduzir o ICMS, imposto estadual, da energia para barater a tarifa. OK, eles são a favor, mas vão exigir compensações, como a reduação dos pagamentos das dívidas dos estados. Todos se mexem, da base governista ou da oposição.
Mas o grande negócio de energia não é esse. É a renovação das concessões das geradoras e transmissoras que vence em 2015. Dilma vai antecipar a decisão sobre esta questão porque os industriais, para investir, precisam saber se haverá energia e quanto ela custará. As estatais, como Furnas, Eletronorte e outras, já amortizaram os investimentos feitos nos últimos 30 anos. Seguindo a política que arquitetou como ministra de Minas e Energia, Dilma quer associar as concessões à oferta da menor tarifa. Se resolvesse leiloar todas as concessões vincendas, o governo levantaria uns R$ 30 bilhões. Mas algumas estatais iriam para o ralo, com funcionários e tudo, se empresas privadas mais competitivas ganhassem os leilões. Tudo indica que ela optará por um modelo misto. Renovará a concessão de algumas das atuais concessionárias, desde que baixem a tarifa, e leiloará a outra metade, adoçando a boca do setor privado, observada sempre a menor tarifa. Essa pode ser uma boa mudança, mas seus efeitos são de médio prazo. Aliás, Dilma decidirá sobre algo que ocorrerá depois de seu mandato. Ou então, em seu segundo mandato. Mas energia é coisa séria demais para ser amarrada ao calendário eleitoral.
PMDB faz seu jogo. A hora é amarga para o PT, mas é doce para o PMDB, que antevê seu fortalecimento como parceiro preferencial do PT para a disputa de 2014. Acham os peemedebistas que essa preliminar Dilma já resolveu com sua entrada forte na eleição de Belo Horizonte, quando chamou o PMDB para a chapa petista e deu um chega para lá em Eduardo Campos e seu PSB. No frigir da apuração, eles acham que terão um prefeito no chamado triângulo das bermudas, com a reeleição de Eduardo Paes no Rio. Que poderão capitalizar a ajuda fundamental em Minas, caso Patrus Ananias vença o candidato do bloco PSB-PDSB, liderado por Aécio Neves. E em São Paulo, acham que Chalita não fará feio. Se Fernando Haddad chegar ao segundo turno, vão apoiá-lo, para o que der e vier, e isso também contará. No mais, podem eleger prefeitos próprios em Cuiabá, em João Pessoa, Boa Vista e outras capitais da periferia nacional. Mas o segundo e mais importante empoderamento virá em fevereiro, com a conquista da presidência das duas Casas do Congresso. Hoje, o PMDB tem quatro ministérios, mas o poder dos ministros é muito relativo. Dilma colocou secretários executivos de sua escolha em todas as pastas peemedebistas. Eles é que conduzem a execução das políticas públicas, que traduzem o verdadeiro exercício do poder no Executivo.
Mão na massa. Dilma sabe que vai ter que se meter na eleição de Belo Horizonte. Afinal, está na conta dela a decisão de lançar a candidatura de Patrus Ananias e de pedir ao PMDB a retirada de seu candidato para apoiar o petista. Foi sua primeira jogada política pessoal, sem assessoria de Lula, e em parceria com o ministro Fernando Pimentel. Por conta do ex-presidente, deixará as disputas de São Paulo e Recife. Mas na cidade em que nasceu, para a vida e a política, vai atuar. E falando mais "uai" do que "tchê".
O trator em ação. No esforço concentrado desta semana, a comissão especial mista da MP do Código Florestal tentará votar os mais de 300 destaques apresentados pelos ruralistas ao relatório nem 8 nem 80 do senador Luiz Henrique. Eles querem 80, indulgência total com os desmatadores. O senador Jorge Viana, relator do projeto que Dilma precisou vetar depois que a Câmara o deformou, parceiro do atual relator, adverte os ambientalistas: se eles continuarem ausentes e emburrados, os ruralistas passarão novamente a patrola. Vale especialmente para sua querida amiga Marina Silva.
"Os governadores já andam muito insatisfeitos com um governo que, no dizer deles, vive fazendo cortesia com o chapéu alheio. Com o deles, sobretudo. "
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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