Ativistas voltam a convocar concentrações puxadas pela questão dos transportes, mas com pauta diversificada.
Protesto e reflexão
Nilson Mariano
Os atos de violência que sobressaltaram o país na semana passada, notadamente no Rio de Janeiro onde desponta a estátua de Drummond, provocaram uma reflexão entre os organizadores das manifestações por melhores serviços públicos e o fim da corrupção. Há a preocupação de que a delinquência de uma minoria possa afetar o andamento de protestos pacíficos e legítimos.
Manifestantes prometem voltar às ruas de Porto Alegre e de outras capitais do país, hoje, em mais protestos contra a passagem de ônibus e por um leque de reivindicações que contempla desde serviços públicos de qualidade até uma reforma política.
A intenção é reprisar os atos que sacudiram o Brasil na semana passada, mas dispensando as minorias delinquentes que se aproveitam da multidão para saquear e depredar.
A temperatura do que pode acontecer hoje podia ser medida no final de semana pelas convocatórias via rede sociais. Como nas vezes anteriores, os protestos são organizados sem a interferência de partidos, sindicatos ou entidades tradicionais. Em Porto Alegre, na noite de domingo, já havia definições, mas pairavam algumas dúvidas. O que parece confirmado: a concentração ocorrerá em frente à prefeitura, a partir das 18h.
– Segunda-feira todos para as ruas – chamava um post assinado pelo Bloco de Lutas Pelo Transporte Público.
As incertezas – que talvez só sejam dirimidas hoje – se referem ao trajeto da manifestação. Uma corrente propunha uma passeata pela Avenida Borges de Medeiros, que culminasse em frente ao Palácio Piratini, na Praça da Matriz. Mas é possível que seja repetido o roteiro da quinta-feira, que tomou a Avenida João Pessoa e desembocou na Avenida Ipiranga, no bairro Azenha.
Há divergências quanto ao percurso a ser feito, mas não sobre o propósito pacífico do ato. No Facebook, foi sugerido que os envolvidos nas cenas de vandalismo da semana passada fiquem em casa para refletir. Insistiu-se para que, uma vez nas ruas, não se deixem arrastar por extremistas.
– Seja diferente. Não derrube, ajude a levantar – escreveu uma jovem.
Também foi recomendado que não sejam levadas bandeiras, camisetas ou faixas identificando partidos políticos ou grupos ideológicos, para manter a essência apartidária do movimento. Mensagens na internet solicitavam que jovens, trabalhadores e a população mostrem a cara.
– Compareça à manifestação sem máscaras. Nosso povo batalhador não tem nada a esconder. Apenas rostos cansados, sofridos e indignados – dizia uma das ativistas.
Desafio é conter as minorias violentas
Preocupação semelhante norteia a preparação de outros eventos pelo país. Os manifestantes que se insurgem contra a corrupção não querem a companhia de desordeiros, que se infiltram para quebrar e roubar. Há o receio de que o furor das minorias, daqueles que sacam martelos e coquetel molotov das suas mochilas para rapinar e destruir, possa comprometer a causa maior de reformar a democracia brasileira.
Os últimos episódios causaram reflexões. Em São Paulo, por exemplo, o Movimento Passe Livre (MPL) chegou a anunciar, na sexta-feira, que desembarcava dos protestos. Oficialmente, alegou que cumprira a missão. Nos bastidores, sabe-se que o MPL preocupa-se com a ação dos grupos radicais – de esquerda e direita – pegando carona nas manifestações populares.
Ontem, o MPL reconsiderou. Fez reuniões em bairros de São Paulo com as comunidades, para esclarecer a campanha por um transporte coletivo eficiente e com tarifa zero. Na página do Facebook, garantiu que irá participar dos próximos atos.
Os protestos anunciados para hoje podem consolidar reclamações já ensaiadas. Uma consulta ao Facebook expõe as que despontam na agenda das ruas: caos na saúde e na educação, superfaturamento nas obras da Copa, corrupção política e a proposta de emenda constitucional (PEC 37) que retira o poder de investigação do Ministério Público.
Fonte: Zero Hora (RS)
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