A presidente Dilma Rousseff aprendeu, nas últimas três semanas, a infinita capacidade da política em oscilar entre momentos bons e momentos ruins. Depois da quase épica vitória na aprovação da MP dos Portos, com o auxílio luxuoso do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Dilma mergulhou em um inferno astral nos últimos 15 dias. Trapalhadas do governo com o Bolsa Família; pibinho (Produto Interno Bruto) de 0,6%, abaixo até mesmo do que o analista financeiro mais pessimista imaginava; alta de juros para conter a inflação; e uma crise incontrolável com o PMDB e a base aliada.
"Se não fosse a habilidade dos líderes aliados, tínhamos derrubado dois ministros e um presidente de banco estatal nessas duas semanas", disse um incomodado aliado do Planalto. As referências são, na sequência, à ministra da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Maria do Rosário, que atribuiu à oposição a correria dos beneficiários do Bolsa Família às agências da Caixa; o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que, mais uma vez, apresentou um cenário otimista de crescimento econômico que não se concretizou; e o presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, que omitiu a informação que o banco que dirige antecipou em um dia o pagamento do benefício, o que pode ter provocado o caos em 13 estados brasileiros.
O debate eleitoral antecipado de 2014 é apontado como um dos responsáveis pela crise política. Na visão de muitos integrantes da base de apoio do governo, essa discussão cega diversos escalões da Esplanada. "À exceção do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que desistiu de disputar o governo de São Paulo no ano que vem, todos os demais ministros estão pensando apenas "em seus quadrados". Mercadante é o único que consegue articular pelo governo", confidenciou ao Correio um senador governista.
Trombadas
Na semana que passou, a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann — candidata do PT ao governo do Paraná —, estranhou-se com o PMDB pelo menos três vezes. No café da manhã com ministros petistas e com o presidente da legenda, Rui Falcão, disse que a aliança com o partido de Michel Temer não era programática. Ouviu de Falcão que "o PMDB é essencial para o governo". Quando Renan decidiu não ler a MP do setor elétrico, ligou para cobrar explicações. "Pelo que me consta, quem foi eleito para presidir o Senado fui eu", retrucou Renan. Diante da presidente Dilma, queixou-se de Renan. Ouviu que, sem o peemedebista no comando do Senado, a situação poderia estar bem pior.
"O que muita gente não entende é que não podemos governar sem o PMDB. E, quanto mais se aproximar as eleições do ano que vem, mais o PMDB vai buscar seu espaço na coalizão", reconheceu ao Correio um assessor governista. "O PMDB tem sido fundamental para nós. A MP dos Portos passou 169 dias parada na Câmara e o presidente Henrique Eduardo Alves aprovou depois de 21 horas de votação. E o Renan votou a MP no mesmo dia que ela chegou ao plenário", declarou Cândido Vaccarezza (PT-SP). Para outro petista, contudo, é justamente o fato de o PMDB comandar as duas Casas que desequilibra o processo. "Se tivéssemos um petista na presidência da Câmara ou do Senado, a negociação com o Planalto ficaria mais fácil", disse um parlamentar do PT de São Paulo.
Para o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), o baixo crescimento da economia é reflexo da crise internacional. "Se nosso governo não tivesse tomado as medidas de desoneração, o emprego não estaria garantido como está", completou. Já para o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), a inflação está de volta, o crescimento é ridículo, os juros estão em alta e a produção agrícola não tem como ser escoada. "Além disso, é inacreditável a desarticulação política. Eles (os governistas) têm 420 deputados na base. A oposição só tem 90. E eles não conseguem colocar quórum para votar uma MP", completou Sampaio. (PTL)
Fonte: Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário