Dilma disse que Lula nunca saiu.
Mas como? Todo mundo viu quando ele foi embora, chorando.
Quando terá voltado?
Terá sido na calada da noite, escondido?
Se ele nunca saiu, está governando.
Como se não votei nele, nem ninguém, porque não era candidato?
Se nunca saiu, está lá. Se está lá, não devia estar.
É um usurpador.
Se está lá, está ilegalmente, anticonstitucionalissimamente (ufa!).
Dilma disse: Lula e eu somos indissociáveis.
Serão um só?
Um dia aparece um, outro dia, o outro.
Lembram-se de Irma Vap? A peça teatral, megassucesso durante anos? Da rapidez com que os atores Nanini e Latorraca trocavam de roupa e surgiam como outro personagem? Se alternavam um na pele do outro?
Teremos na presidência Dilma Vap?
Dilma sai da sala, volta Lula.
Lula sai, volta Dilma.
Será uma peça teatral de Ionesco? De Beckett, de Jorge Luis Borges? Ou uma chanchada da Atlântida?
Ou será filme do Woody Allen? Zelig, por exemplo, em que o personagem vai adquirindo outras personalidades automaticamente.
Lula será Dilma?
Ou Dilma será Lula?
Por isso que os ministros vivem tão atarantados?
Ou pela primeira vez na história temos uma dobradinha na presidência?
Novo tipo de governo? Dois presidentes por um? Como o antigo doce da Cica, quatro em um?
Lula liga: Dilma, hoje vai você, tenho uma palestra na Sorbonne, ou em Oxford, ou em Yale, ou Cambridge ou na Patrice Lumumba.
Dilma: Lula, hoje vai você, que tenho de fazer um discurso citando o FHC como o culpado de tudo.
(FHC perturba o sono de Dilma; está sempre presente; é um trauma, obsessão, alucinação, pesadelo. Ou será admiração?)
Então, está explicado.
Se o Lula nunca saiu, tudo o que está acontecendo, economia ruim, inflação, saúde péssima, educação aos pedaços, violência desenfreada, povo nas ruas, é culpa do Lula.
Volte a presidir, Dilma.
Ignácio de Loyola Brandão contista, romancista e jornalista
Fonte: Caderno 2 / O Estado de S. Paulo
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