Pedro Venceslau
Favorito na disputa interna pela presidência do PT o deputado estadual paulista Rui Falcão começará sua campanha reeleitoral entre os militantes no próximo dia 13 levantando antigas bandeiras da esquerda, fazendo autocrítica sobre a burocratização da legenda nos últimos dez anos e defendendo mobilizações de rua.
"Cabe ao PT organizar mobilizações e campanhas massivas, em todo o País, em torno de questões cruciais da vida brasileira, como, por exemplo, a democratização das comunicações", diz o texto. O manifesto resgata temas recorrentes no partido na época de sua fundação no início dos anos 80. Fala em reforma agrária, integração da América Latina, compromisso com igualdade de gênero e orientação sexual e com "causas libertárias".
Tratado internamente como a linha mestra do partido nas campanhas de 2014, o manifesto explicita reclamações feitas internamente pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"O PT não pode ser apenas uma máquina eleitoral que se mobiliza a cada dois anos. Deve ser um partido militante, de atuação cotidiana", diz o texto. Principal cabo eleitoral de Falcão, Lula aprovou o conteúdo.
O manifesto foi escrito pelo ex-secretário geral da Presidência, Luiz Dulci, atual presidente Instituto Lula e coordenador da campanha do petista. Além da rubrica do ex-presidente, que deve ser a primeira, o documento será assinado por personalidades do partido e quadros políticos das três principais correntes internas do PT: Construindo um Novo Brasil, Novos Rumos e PT de Luta e Massas. Juntas, formam a chapa O Brasil quer mais e melhor. Esse grupo é herdeiro da antiga Articulação, tendência majoritária desde a fundação do partido.
Voz das ruas. A presidente Dilma Rousseff integra o grupo, mas não deve assinar o documento. O texto mostra preocupação com as manifestações de junho e seu impacto na eleição do ano que vem. "É indispensável estreitar ainda mais os laços do partido com os movimentos sociais, seja apontando as suas lutas, seja promovendo campanhas conjuntas em defesa de causas comuns", diz o texto.
O manifesto fala, ainda, em buscar uma "profunda sintonia" com as grandes organizações e movimentos populares, "mas também com as novas redes de ação social".
Em algumas manifestações de junho, petistas foram agredidos e expulsos das passeatas.
O texto escrito por Dulci teoriza que a revolta popular registrada em junho ocorreu devido ao sucesso dos 10 anos de PT no poder - tese já defendida por Lula e por Dilma publicamente. Em nenhum momento o documento cita a queda brusca da popularidade da presidente.
"O novo tempo que construímos traz consigo também novos desafios (...) o de ouvir a voz das ruas e responder criativamente aos seus anseios".
Mais extensa, a tese oficial da chapa de Falcão - um outro documento divulgado nesta semana - avança nessa avaliação e diz que as manifestações exigem do PT uma reformulação positiva de sua estratégia partidária.
"O PT saúda as mobilizações sem ingenuidade nem reatividade. E deseja assumir, livremente, o papel de um dos vetores dessa nova cena nacional." O documento também prega "uma cultura de esquerdas" e ousa mais na autocrítica. "Cabe ao PT enfrentar de uma só vez os riscos da excessiva burocratização e vinculação de seus quadros com os aparelhos de Estado."
No momento em que Falcão se esforça para evitar rusgas com o PMDB depois que o partido foi alvo de críticas de setores do PT, o documento assinado pelos três grupos que apoiam a candidatura dele diz, sem citar nomes, que "setores" do parlamento "antepõem obstáculos à realização da reforma política".
Manifesto e tese deixam claro que, depois de dez anos no poder e sob a pressão das ruas, o PT deve resgatar o discurso de fundação do partido.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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