Deputados que anunciaram filiação à legenda de Marina Silva estudam alternativas eleitorais caso o projeto fracasse no TSE
Adriana Caitano, Daniela Garcia
A uma semana da votação do pedido de criação da Rede Sustentabilidade no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), parlamentares que estavam de mudança para a nova sigla convivem com o risco do fracasso do projeto e já estudam alternativas para não ficarem de fora das eleições de 2014. Quem quer se candidatar no próximo pleito, tem até 5 de outubro para se filiar a um partido. Únicos a declararem abertamente que partiriam para a Rede, os deputados Domingos Dutra (PT-MA), Alfredo Sirkis (PV-RJ) e Walter Feldman (PSDB-SP) estão na berlinda. Os que apenas haviam anunciado apoio a Marina Silva sem se comprometerem com a filiação, porém, têm a vantagem de não terem rompido laços com suas siglas e podem permanecer nelas sem desgastes.
Apesar de ainda não ter se desfiliado do PT, Domingos Dutra diz não se considerar mais da sigla que ajudou a criar e onde está há 33 anos — não participa mais das reuniões de bancada nem se obriga a seguir o encaminhamento do líder nas votações. Caso a Rede não se configure, portanto, fatalmente deixará o reduto petista. Convites não faltam. Dutra assume ter conversas avançadas com PDT, PSB e PCdoB e encontra motivos para se filiar a qualquer um deles. “O PCdoB é o partido do Flávio Dino, a quem vou apoiar na candidatura a governador do Maranhão, o PSB tem uma base social muito parecida com a do PT no meu estado, também feito por gente simples, e tenho afinidade com o PDT por ter sido vice do Jackson Lago na prefeitura de São Luís”, argumenta. “Mas é claro que isso só vai ser analisado depois do desfecho da Rede, que espero ser dia 1º porque deixar para a última hora fica complicado.”
Se Dutra seguir para uma legenda já existente, o PT tem o direito de tentar pedir o mandato por infidelidade partidária. Mas, por enquanto, o comando petista nega que o deputado sofrerá algum tipo de retaliação. Alfredo Sirkis, no entanto, corre o risco de não ter a mesma sorte. Antigo aliado de Marina, ele participou do movimento que questionou o comando do PV em 2011 e culminou na saída da ex-candidata à Presidência. Como tinha acabado de ser reeleito na Câmara, na época, ele preferiu continuar no partido para não perder o mandato, mesmo sob a pressão dos adversários da ex-senadora.
Quando a Rede começou a se organizar, Sirkis não escondeu que seria um dos filiados. Agora, está visivelmente sem saída. “Há uma situação de grande incerteza, mas não tenho plano B. Tenho uma história no PV, fui candidato a presidente com ele e espero que essa decisão de não me darem legenda em 2014 não seja formalizada, caso contrário, vou ter que lidar com isso de alguma maneira”, lamenta. “Mas não sei se quero mesmo me candidatar novamente no ano que vem.”
Empreitada
Entre os deputados que estavam de malas prontas, apenas Walter Feldman, que integra a Executiva da Rede, faz parte da tropa dos mais confiantes, liderada por Marina Silva, que apostam as fichas no sucesso da empreitada. “Eu não tenho outro caminho, não estou nessa para ser candidato a deputado. Minha decisão é acompanhar a Marina, minha alternativa é a Rede e acredito de verdade que vai sair”, comenta. “Sou um otimista incorrigível e vou continuar assim porque, na maior parte das vezes, tive sucesso.” Feldman tem a seu favor o clima favorável no PSDB, que deve aceitar sua permanência sem restrições, caso a Rede fracasse. “A bancada na Câmara até chegou a fazer uma campanha chamada ‘Fica Waltinho’, mas entende minha decisão pessoal”, relata.
Também convidados pela presidenciável a integrar a legenda, outros parlamentares declinaram da proposta, limitando-se a aplaudir a iniciativa. Estão na lista os deputados Reguffe (PDT-DF) e Alessandro Molon (PT-RJ) e os senadores Cristovam Buarque (PDT-DF), Randolfe Rodrigues (PSol-AP) e Eduardo Suplicy (PT-SP). O senador petista, por exemplo, chegou a participar da festa de inauguração, assumiu ter ficado “tentado a cair na Rede” e fez discurso em favor de Marina. Mas, assim como os outros, garantiu que de onde estava não sairia. Embora estejam insatisfeitos com o PDT, que é alvo de frequentes denúncias de envolvimento em corrupção, Reguffe e Cristovam também negam que pretendem deixar a sigla. Caso a Rede se viabilize, porém, a tendência é de que ao menos Reguffe aceite o convite na última hora.
TSE determina recontagem
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou que seja feita a recontagem das assinaturas de apoio ao Rede Sustentabilidade, da ex-senadora Marina Silva. Em decisão monocrática, o TSE acatou pedido do vice-procurador eleitoral, Eugênio Aragão. O representante do Ministério Público alegou que o Rede havia conseguido apenas 102 mil assinaturas, mas os organizadores da legenda alegam que já conseguiram mais de 860 mil assinaturas de apoiadores. Dessas, 640 mil foram entregues à Justiça Eleitoral, 304 foram certificadas pelos cartórios e outras 220 mil ainda precisam ser analisadas. A divergência, segundo a ex-senadora, se deve ao atraso nos procedimentos dos tribunais regionais eleitorais (TREs). Para disputar as eleições de 2014, o Rede tem que ser registrado até 5 de outubro.
Fonte: Correio Braziliense
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