Por Cristian Klein
SÃO PAULO - A Comissão Executiva Nacional do PT decidiu ontem, em reunião em São Paulo, que o partido deixará a critério dos governadores e prefeitos do PT e do PSB o destino dos cargos ocupados por petistas e pessebistas nas administrações em que as duas siglas são aliadas. A decisão é uma resposta à entrega de cargos no governo federal feita pelo PSB na semana passada. Com isso, o PT tenta evitar um esgarçamento ainda maior com a legenda do governador de Pernambuco Eduardo Campos. Ao entregar os cargos federais, o líder do PSB deu o sinal mais claro até agora de que concorrerá contra a reeleição da presidente Dilma Rousseff, embora tenha evitado rompimento.
Na guerra fria entre os dois partidos, o PT também preferiu baixar a voltagem, sem indicar uma retaliação. Na resolução divulgada ontem à tarde, o partido afirma que "onde o PT decidiu participar de governos dirigidos pelo PSB, assim como onde o PSB participa de governos dirigidos pelo PT, deve prevalecer o debate programático, mantendo a diretriz de que os cargos estão sempre à disposição".
Na prática, isso preserva os cargos que pessebistas têm, por exemplo, no governo gaúcho e na Prefeitura de São Paulo; empurra a decisão de um rompimento geral para o colo do PSB e deixa a porta aberta para entendimentos regionais, locais e mesmo no nível nacional, onde o PT ainda diz confiar no apoio da legenda do governador de Pernambuco. Os três primeiros pontos da resolução tem esse tom de convite, ao mesmo tempo em que mostram o que seria o estreito campo de ação de Campos como terceira via.
O texto afirma que 1) "tanto agora quanto nas eleições de 2014, está em jogo a mesma disputa de projetos que marcou as eleições de 2002, 2006 e 2010; 2) que, portanto, tanto no primeiro quanto no segundo turno, a disputa colocará os partidos em dois campos distintos: um deles representado pelos avanços promovidos pelos governos de Lula e de Dilma, e outro, representado pelos governos hegemonizados pelo PSDB, DEM e PPS; e 3) neste sentido, esperamos que o PSB se mantenha ao lado do projeto de mudanças que estão em curso no país".
O presidente do PT, Rui Falcão, disse que o partido alimenta "a expectativa de que o PSB continue neste campo". No entanto, como tudo indica a separação, o PT já dá sinais de que tentará preservar a aliança em alguns Estados para não prejudicar a "joia da coroa": a reeleição de Dilma. É uma tendência diferente à de dois meses atrás, quando Falcão anunciou ao Valor que o PT lançaria candidatos a governador em todos os Estados. "Onde tiver compatibilidade de programa nós queremos continuar atuando junto, seja onde eles [PSB] lideram, seja onde nós lideramos", disse.
Isso abriria margem para a montagem dos chamados "palanques duplos", nos quais candidatos a governador apoiariam tanto Dilma quanto Eduardo Campos. Em pelo menos dois dos seis Estados governados pelo PSB, no Ceará e no Amapá, essa possibilidade é mais provável.
No Piauí, no entanto, o distanciamento entre os dois partidos no plano nacional já precipitou o afastamento regional. Ex-governador e líder do PT no Senado, Wellington Dias disse que o diretório estadual já decidiu pela entrega dos cargos que tem na administração do governador Wilson Martins (PSB). Presente na reunião da Executiva, Dias deverá tentar voltar ao comando do Estado.
A reunião da Executiva do PT também divulgou outra resolução na qual afirma que irá obstruir "propostas de contra-reforma política" se levadas ao Congresso. A decisão teve alvo direto: o deputado federal Candido Vaccarezza (PT-SP), que coordena o grupo de trabalho sobre o tema na Câmara. Os projetos em discussão, no entanto, como o fim da reeleição, são contrários aos interesses do PT. Num almoço ontem, em São Paulo, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e Rui Falcão, Vaccarezza foi comunicado sobre a resolução e teria sido "enquadrado". "Não sei se o almoço teve esse caráter. [Mas] a nota da Executiva é isso. Enquadra", afirmou o deputado Paulo Teixeira (PT-SP)
Fonte: Valor Econômico
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