Aécio e Campos disputam o papel de melhor representante de parcela do eleitorado apontada por pesquisas
Paulo Celso Pereira e Maria Lima
-Brasília- A perspectiva de renascimento das manifestações de rua na Copa do Mundo e o desejo amplamente majoritário por mudanças na condução das ações governamentais, já captado na última pesquisa Datafolha, jogam cada vez mais imprevisibilidade sobre as eleições de 2014. E é nesse cenário, novo em relação às últimas eleições, que os adversários da até agora favorita Dilma Rousseff tentarão se consolidar como catalizadores desse sentimento de mudança. Se, até os protestos de junho, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) disputavam sobre quem poderia continuar da melhor forma o governo do PT, usando como slogans "fazer mais" ou "fazer melhor" agora a disputa será pelo papel de melhor representante da mudança desejada por 66% da população, segundo aferiu o Datafolha.
Embora esse dado, associado à preocupação popular com a economia, prejudique o favoritismo de Dilma, por outro lado nenhum dos pré-candidatos de oposição até agora conseguiu consolidar-se como catalisador desse sentimento. Por isso, a tendência é que a própria Dilma também entre nesse embate pela "mudança" lutando para se consolidar como a opção segura para promover as alterações necessárias.
Três grandes temas
O diretor do Datafolha, Mauro Paulino, lembra que esse percentual (66%) se aproxima do captado em setembro de 2002, um mês antes de Lula eleger-se presidente como contraponto ao governo Fernando Henrique, quando 76% dos brasileiros queriam que as ações do novo governo fossem diferentes.
— Esse número tem muito significado. Mas não quer dizer necessariamente tendência total de querer escolher a oposição, até porque, mesmo entre os que hoje dizem votar em Dilma, há parcela grande que quer mudança. Isso pode ser porque não enxergam na oposição discurso convincente de mudança ou porque acreditam que Dilma é a alternativa mais segura para promover essas mudanças. Não tenho dúvida de que os candidatos vão levar muito em conta esse desejo, que se expressou no apoio em massa às manifestações de junho — explica Paulino.
Segundo o diretor do instituto, há três grandes temas — Saúde, Educação e Segurança Pública — para os quais os candidatos devem apresentar propostas concretas e compreensíveis em busca dos votos. São as três áreas que a população considera prioritárias, especialmente a Saúde, apontada por mais da metade dos entrevistados como principal problema do país.
Há, no entanto, outro fator que, como em toda eleição presidencial, terá papel decisivo: a economia. E, nela, os dados não são positivos para Dilma. Dias antes do início dos protestos de junho, a avaliação positiva do governo já havia sofrido forte queda de oito pontos coincidindo com crescimento do percentual de eleitores que acreditavam que o desemprego e a inflação tendiam a aumentar. Após um refluxo, esses indicadores voltaram a crescer na última pesquisa do Datafolha.
— A forma como a economia vai se comportar será decisiva na eleição. A preocupação com desemprego e inflação aumentou, os que acham que a inflação vai aumentar subiram de 54% para 59%. É a maior taxa desde novembro de 2007, a primeira data que tenho. E os que acham que o desemprego vai aumentar subiram de 38% para 43%. No começo de junho, antes das manifestações, tinham subido de 31% para 36% e chegado no final de junho, após os protestos, a 44%. É quase o mesmo índice de hoje — explica Paulino.
Daqui até agosto do ano que vem, quando a eleição entrará no dia a dia da população, a receita dos candidatos de oposição é ter tranquilidade com pesquisas e investir em viagens e no diálogo com setores organizados. Tanto para Aécio Neves quanto para Eduardo Campos, o dado mais importante no momento é o que confirma o sentimento de mudança.
— Temos que ter tranquilidade. A grande população ainda não tomou conhecimento de que existem opções viáveis na disputa. Até o início da campanha para valer, será um tempo mais desafiador. Só depois da Copa o tema "eleição" entrará no cotidiano das pessoas para valer — disse Campos ao GLOBO. — Agora é o período de aprofundar o diálogo com setores já preocupados com a sucessão: a academia, os empresários, os trabalhadores.
O socialista, que tem rodado o país para travar esse diálogo mas ainda é desconhecido do grande público, faz apostas.
— Os que estão com a presidente Dilma e querem mudança serão os primeiros a descolar quando tomarem conhecimento de quem são as outras alternativas. Só aí ela pode perder 30 ou 20 pontos, e voltar ao núcleo duro de 27% (de intenções de votos) nas pesquisas — avalia o governador de Pernambuco, que na última pesquisa Datafolha aparece com 9% das intenções de votos.
Aécio diz que não subestima a capacidade de compreensão e de discernimento do eleitor no momento de decidir o seu voto, mas ressalva que esse processo tem tempo certo para ocorrer:
— Não temos sequer candidaturas lançadas, exceto a da presidente. Uma candidata full time, com enorme exposição e que utiliza todo o aparato de propaganda-oficial. O dado relevante neste momento, em todas as pesquisas, é o de que há sentimento claro da população por mudanças, seja de quem vive nas capitais ou no interior do país — disse Aécio. — Cabe aos partidos na oposição mostrarem à população que podemos fazer essa mudança.
Os socialistas avaliam que chegou a hora de uma nova ruptura. Relembram o que aconteceu em 1964, com o golpe, militar; em 1974, quando, na ditadura, o MDB elegeu uma enorme bancada de senadores; em 1984, com as Diretas Já; em 1994, com a eleição de FH; e o Plano Real e em 2002, com Lula.
— Movimentos de mobilização social sempre marcaram o início e o fechamento desses ciclos. É o que estamos vendo de novo agora — diz Campos, lembrando as manifestações de junho e as pesquisas que pedem mudança.
Fonte: O Globo
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