- O Estado de S. Paulo
Não resta a menor dúvida de que boa parte do PMDB trabalha pela interrupção do mandato da presidente Dilma Rousseff. Com uma passada rápida por Brasília constata-se isso. As confabulações acontecem quase que a céu aberto. E quanto mais o vice-presidente diz que não, mais seus atos (falhos?) deixam transparecer o que se passa em seu partido.
Até aí estamos entendidos. Movimentação não tão aparente assim, mas visível aos olhos vivos e faros finos que circulam pela Esplanada e adjacências, conspira ainda mais pela sucessão de fracassos que mantém o governo nas cordas e tem origem nas disputas internas do PT.
A briga envolve as duas maiores correntes do partido: a liderada pelo presidente Rui Falcão, integrada (entre outros) pelo ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o grupo ligado ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ao ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro e aqueles petistas que desde o escândalo do mensalão defendem a tese da “refundação do partido”.
A primeira ala luta pelo domínio do governo em curso e a segunda, até agora minoritária, batalha pelo espólio do PT a fim de assumir o comando no lugar dos atuais “capas-pretas”.
Nessa história há uma dimensão política e outra de caráter, digamos, econômico-ideológico, contrária à permanência de Joaquim Levy no ministério da Fazenda. E isso tudo envolve o entorno mais próximo da presidente Dilma Rousseff, formando uma rede de intrigas, cuja produção é obviamente deletéria para o governo.
Em certos setores da oposição defende-se a ideia de que o melhor é deixar a autofagia do PT e a rebelião no PMDB fazerem o papel de adversários de fato, robustecendo o desgaste. A oposição continuaria na condição de quase espectadora do espetáculo sentada no conforto do camarote VIP.
No campo da política, os “refundadores” apostam nos resultados da Operação Lava Jato para enfraquecer os adversários internos. Não veem com maus olhos as investigações muito menos resultados tais como a abertura de inquéritos que agora atingem Mercadante e o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva. Essa ala também incentiva o atrito com o presidente da Câmara. Dela, partem ataques a Eduardo Cunha a fim de dificultar uma reaproximação com o Palácio do Planalto e manter o deputado na trincheira oposicionista.
O grupo cujo alvo é a política executada por Joaquim Levy quer que prevaleçam as ideias em vigor no primeiro mandato da presidente, pois com Levy seu poder de influência fica reduzido. Um episódio traduz bem a situação: o presidente do PT, Rui Falcão, trabalhou explicitamente contra a hipótese de o ex-presidente Lula vir a substituir Dilma como candidato em 2014 porque, com ela na Presidência de 2011 a 2014, foi muito mais ouvido do que fora nos oito anos anteriores.
Diante desse quadro, qualquer pessoa dotada de mínimo bom senso e racionalidade colocaria no debate a seguinte questão: sendo essas disputas tão prejudiciais ao governo, sendo elas um fator de desestabilização e em boa parte a razão das decisões erráticas da presidente, qual o interesse do PT em pôr em risco sua permanência no poder?
Duas hipóteses são levadas em conta por analistas (petistas e governistas não petistas) do cenário. A primeira: quando se trata de PT, não existe o fator racionalidade; a irracionalidade impera. A segunda hipótese, hoje com muitos adeptos: ao partido em geral e a Lula em particular a única chance de sobrevivência seria passar três anos na oposição, longe da responsabilidade de resolver, cobrando do sucessor uma solução.
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