• Vice, que havia defendido a Cide, afirma ser a favor de cortes de despesas
Washington Luiz, Simone Iglesias e Júnia Gama – O Globo
- BRASÍLIA- O vice- presidente Michel Temer adotou ontem uma posição dúbia em relação ao aumento de tributos, que vem sendo debatido dentro do governo. Após conversar na última sexta- feira com o ex- ministro Delfim Netto, em São Paulo, o vice encampou a ideia do aumento da Cide ( Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) sobre os combustíveis, como forma de aumentar as receitas da União e dos estados, e decidiu apresentála aos governadores do PMDB, com quem se reuniu à noite. Apesar disso, ao sair para o encontro com governadores, pouco depois de ter se encontrado com a presidente Dilma Rousseff, o vice disse ser contra o aumento de qualquer tributo:
— Eu tenho sustentado o corte de despesas. Eu acho que é isto que a sociedade quer. As pessoas não querem, no geral, qualquer aumento de tributo. Aumento de tributo é só em última hipótese, descartável desde já. Vamos ver quais são as despesas. Nós temos que evitar remédios amargos, nós temos que verificar, se for possível, simplesmente cortar despesas. A tendência é essa.
Segundo Temer, no entanto, o aumento da Cide seria um “remédio menos amargo” para recuperar a economia e beneficiar a União e os estados.
— Quando se fala em remédios amargos tem que ser, digamos, o menor dos remédios amargos. Eu me impressionei muito com a argumentação do professor Delfim Netto, que sustenta a tese da Cide. A argumentação é exatamente esta: que de um lado traz recursos para a União, e também traz recursos para os estados.
Delfim defende, baseado em estudo elaborado pela União da Indústria de Cana- de- Açúcar — que é beneficiária direta do aumento da Cide, já que o álcool
Temer, ao lado de Renan, de Cunha e de governadores do PMDB: em pauta, defesa da volta da CPMF e crise se torna mais competitivo —, que, se a Cide aumentar de R$ 0,10 para R$ 0,60 por litro de gasolina, o governo teria uma receita de R$ 15 bilhões ao ano.
Reunião com a base aliada
Oficialmente fora da articulação política, Temer foi chamado ontem por Dilma para afinar o discurso com a base aliada e evitar a aprovação das chamadas pautasbomba na Câmara. Convocados às pressas ao gabinete do vice, os líderes da base na Câmara firmaram um acordo para evitar a aprovação de projetos que gerem impacto fiscal ao governo. A reunião, que contou com os ministros Aloizio Mercadante ( Casa Civil) e Eliseu Padilha ( Aviação Civil), teve como foco as pautas previstas para esta semana.
Temer conversou com líderes da base e pediu para que eles não aprovem o projeto do deputado André Figueiredo ( PDT- CE) que altera a medida provisória do segurodesemprego causando um impacto de R$ 818 milhões, segundo o Planejamento.
O governo quer também conseguir aprovar a urgência de uma proposta alternativa que reajuste o salários dos servidores do Judiciário em 23%. Perguntado se voltou para a articulação, Temer reafirmou que cuida da macropolítica:
— Estou fazendo a macro- coordenação. Não faço mais varejo. Quando há necessidade, a presidente me chama. Eu voltei apenas para essa macropolítica e nada mais do que isso.
O apelo teve apoio do líder do PMDB na Casa, Leonardo Picciani ( RJ), que defendeu a não votação de medidas que gerem impacto nas contas da União:
— Medidas que puderem ter impacto fiscal não devem ser apreciadas pelo Congresso até que se discuta o Orçamento.
Segundo o líder do governo, José Guimarães ( PT- CE), todos os líderes concordaram em manter o apoio nessa questão.
No jantar, que reuniu ontem Temer, governadores, ministros e lideranças do PMDB, o clima foi de reclamação em relação ao governo e de pessimismo com a economia. Parte dos governadores defendeu a volta da CPMF, o que já foi criticado pelo vice.
— Precisamos de uma pauta para tirar o país da crise, para tirar os estados da situação difícil em que se encontram. De sugestões não no sentido de desafiar o Poder Executivo, mas de levar à presidente Dilma um clamor efetivo — disse o governador de Rondônia, Confúcio Moura.
Moura e o governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori, estão entre os que defenderam a volta da CPMF. Eduardo Cunha, que preside a Câmara, também presente, considerou inadequada a volta do imposto. ( Colaboraram: Catarina Alencastro e Fernanda Krakovics)
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