- Folha de S. Paulo
Imagine que estamos no final de março de 2016, e a presidente Dilma Rousseff acaba de obter 190 votos na histórica sessão da Câmara que abriria seu processo de impeachment. São 19 a mais do que os 171 necessários para sobreviver. Seu mandato está salvo.
Mas está mesmo? Com 190 votos em 513, como ela governa? E se forem 200, ou mesmo 230, como aprovar uma medida provisória que seja?
Governo e oposição têm tratado a votação do impeachment como uma oportunidade de recomeço, um gargalo pelo qual o Brasil terá de passar para sair da paralisia, de um jeito ou de outro. Há um risco considerável, contudo, de que sofreremos o traumático processo de tentar afastar um presidente eleito em troca de nada.
Para o governo, conseguir o mínimo de votos para derrotar o impeachment não é muito difícil. Hoje, se alguém tem de subir um Everest para triunfar é a oposição.
O futuro de Dilma depende de que tipo de vitória ela teria. O sucesso magro, num primeiro momento, aumentaria a pressão pela renúncia, com o argumento de que seu governo está inviabilizado. Quem conhece Dilma e o PT sabe que a chance de isso acontecer é próxima de zero.
A presidente poderia, teoricamente, recorrer ao instrumento clássico de formação de base parlamentar, a compra de apoio político.
Isso se faz por liberação de emendas ou com os famosos "recursos não contabilizados", tornados célebres pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Para ter sucesso, é preciso dinheiro no caixa, mas isso será mercadoria escassa em 2016.
No ano novo, a recessão continuará galopante, a Lava Jato operando a todo o vapor, as prisões e delações premiadas, se acumulando e o PMDB, cada vez mais o inimigo interno da presidente. Mesmo que resista, Dilma terá enorme dificuldade para recomeçar. Está aí um cenário de verdadeiro pesadelo: o longo processo de impeachment poderá, no final de tudo, parir um rato.
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