- O Estado de S. Paulo
Não importa o nome do partido que sair vencedor ou perdedor das eleições municipais de amanhã. O certo é que o Brasil continuará carente de líderes políticos. Principalmente de líderes que representem a nova geração, e que deveriam estar se preparando para substituir a que está no poder. Em qualquer horizonte que se possa olhar, é pouco provável que da eleição de agora possa surgir alguém que daqui a uns anos venha a chacoalhar a política, a liderar mudanças, a ditar o rumo da História.
É estranho que uma Nação com 206 milhões de habitantes, 31 anos de uma democracia que suportou bem dois processos de impeachment do presidente da República, 35 partidos políticos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), liberdade absoluta de opinião política e eleições a cada dois anos encontre dificuldades para construir novos líderes políticos. Mas essa é a realidade brasileira. Não há como fugir dela.
Algumas razões podem explicar essa crise de lideranças. Uma delas é o excessivo personalismo que domina os partidos.
O PT, por exemplo, nunca preparou um novo líder ou um candidato à Presidência da República que não fosse Lula. Ele disputou cinco eleições, perdeu três e venceu duas. Impossibilitado de disputar mais uma reeleição, impôs a candidatura de Dilma Rousseff.
Como ninguém é imortal, e os ídolos muitas vezes caem, como agora Lula caiu, o PT ficou sem ninguém para disputar a eleição de 2018, a não ser de novo o ex-presidente. Como Lula é réu em dois processos na Justiça Federal, não se sabe nem se ele terá condições legais de se candidatar. Sem contar que estará com 73 anos em 2018 e um fardo de desgaste pesado para carregar.
O PMDB do presidente Michel Temer também está numa situação muito ruim. Desde 1994, quando disputou a Presidência da República com Orestes Quércia, o partido desistiu do Palácio do Planalto pela via direta. Hoje, fala-se em dois nomes para disputar a sucessão de Temer: o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e o ministro José Serra (Relações Exteriores). Paes, que poderia fazer a transição entre a nova e a velha geração, enfrenta dificuldades para levar o deputado Pedro Paulo, seu candidato, ao segundo turno da eleição no Rio. Serra nem é do PMDB. Ainda está no PSDB.
O DEM, que quase desapareceu da política, ganhou fôlego com o impeachment. Tem a oferecer o nome do senador Ronaldo Caiado (GO). Mas Caiado, com 67 anos, já passou do tempo de fazer a transição entre a velha e a nova geração. De posições políticas transparentemente conservadoras, dificilmente Caiado conseguiria montar uma aliança que lhe garantisse condições de vitória.
O PSDB, que sonha suceder a Michel Temer, também tem problemas. O presidente do partido, Aécio Neves, cujo bom desempenho na eleição de 2014 poderia torná-lo o tucano mais forte para disputar a eleição de 2018, teve papel secundário nos últimos acontecimentos políticos do País, a exemplo do impeachment de Dilma Rousseff. Esse sumiço pode ser fatal. Tanto é que ele já está perdendo espaço dentro do partido para o governador Geraldo Alckmin. Este, com 65 anos em 2018, já não pode ser considerado mais o nome para a transição entre as gerações.
Quanto a Marina Silva, não dá para dizer que ela será a pessoa a assumir a direção do País daqui a pouco mais de dois anos. Ela e seu partido, a Rede, gozam da simpatia de boa parte dos eleitores. Mas tal simpatia não tem se revertido em votos. Tanto é que os candidatos da Rede estão muito mal posicionados na disputa municipal. A Rede padece do mesmo mal dos partidos montados em cima de nomes. Sem Marina não é nada. E Marina sozinha não tem votos.
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