Por Fernando Taquari | Valor Econômico
SÃO PAULO - Em sintonia com os movimentos que lideraram as manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff e voltam às ruas no próximo domingo, as principais lideranças tucanas se manifestaram contra o voto proporcional em lista fechada. O movimento une os grupos do presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), e do governador paulista, Geraldo Alckmin, pré-candidatos que disputam a indicação do partido para concorrer à Presidência em 2018, além do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
O ex-presidente foi o primeiro tucano a puxar a fila publicamente contra a proposta. Em vídeo divulgado ontem, na rede social Facebook, FHC condenou o modelo em que os eleitores passam a votar em uma lista fechada, que permite o pré-ordenamento dos candidatos pré-ordenada pelos partidos. Esse sistema, segundo ele, tem "cheiro de impunidade" e visa evitar o avanço da Lava-Jato. Pouco tempo depois, aliados de Aécio e Alckmin também se colocaram contra a medida.
"Eleita vai ser a direção do partido e o povo vai votar em partidos. Quais? O povo nem sabe o nome dos partidos. Não são partidos a maioria, são legendas. Não dá para aprovar nada que tenha cheiro de impunidade", disse FHC, a despeito do entendimento prévio entre lideranças do Legislativo, Executivo e Judiciário em favor deste modelo. "Isso é uma lei que tem como objetivo evitar que a Lava-Jato vá adiante. Não pode. Quem errou vai pagar", acrescentou.
Os críticos da lista fechada entendem que esse sistema serve para reeleger e garantir a prerrogativa de foro privilegiada a parlamentares acusados de corrupção. A maioria dos partidos, incluindo o PSDB, tem políticos envolvidos em irregularidades apontadas pela Operação Lava-Jato. Após o vídeo de FHC, o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), ligado a Aécio, compartilhou em sua página no Facebook críticas ao modelo.
"O momento é inoportuno. É fatal que a opinião pública vá enxergar que as lideranças estão no meio de uma crise profunda querendo se esconder atrás da lista. É uma interpretação questionável, mas isso vai ser a realidade", disse o deputado. As declaração foi feita em um seminário na terça-feira, mas divulgada somente ontem. "Não existe uma tradição de vida orgânica e democracia interna [nos partidos]. Por isso há uma desconfiança sobre o processo de construção da lista", explicou.
Alckmin também já manifestou a interlocutores contrariedade contra a proposta, a exemplo do líder do PSDB na Câmara, deputado Ricardo Trípoli (SP). A lista fechada deve constar no relatório do deputado Vicente Cândido (PT-SP), relator da reforma política. A expectativa é que outras mudanças nas regras eleitorais, como o fim das coligações proporcionais e um novo sistema de financiamento, sejam aprovadas até meados do ano, o que garantiria sua validade na eleição de 2018.
No vídeo, a exemplo do que fez em nota recente, FHC voltou a comentar a hipótese de anistia ao caixa dois ao afirmar que essa prática é criminosa, mas não cabe aos políticos opinar sobre o assunto. "E caixa dois? Também é crime, mas é outro tipo de crime. Está capitulado no Código Penal. Deixa que a Justiça separe o que é caixa dois, o que é crime de corrupção, o que pode ser punido quando não é eleição, o que pode ir para cadeia. Não somos nós, os políticos, que vão opinar", disse.
Além disso, o tucano ressaltou que este não é o momento ideal para o Legislativo propor mudanças. "Nossos partidos hoje, vamos falar com franqueza, vão muito mal das pernas. Os políticos todos estão mal das pernas. Então, não acho que seja o momento de fazer proposta", declarou o ex-presidente, que defendeu apenas mudanças já aprovadas pelo Senado e que estão em tramitação na Câmara. Como exemplo, citou o fim das coligações proporcionais e a cláusula de barreira.
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