O voto britânico contra a União Europeia e a vitória de Donald Trump nos EUA suscitaram o temor de que se formava, nos países ricos, uma onda populista conservadora. Desde então, a ultradireita perdeu eleições na Áustria, na Holanda e, agora, na França.
A vitória de candidatos próximos ao centro, no entanto, ainda não permite concluir que arrefeceu o apelo de programas nacionalistas e xenófobos. Radicais de direita e esquerda receberam o apoio de 42% do eleitorado no primeiro turno da eleição francesa; no segundo, Marine Le Pen teve um terço dos votos; desde os anos 1980, a Frente Nacional cresce.
Não é possível dizer se o apelo do radicalismo chegou a um limite ou se ainda tende a crescer. A resposta dependerá, em parte, do desempenho de Emmanuel Macron.
O presidente eleito da França é um centrista à frente de um partido-movimento lançado faz um ano. Tomará posse no domingo, quando anunciará seu primeiro-ministro. Mas somente na eleição parlamentar de junho os franceses devem revelar qual formato e plano de governo preferem.
Segundo pesquisas, metade do eleitorado é ora favorável à coabitação —a um governo em que o presidente não tem maioria no Legislativo, sendo o premiê de outro partido. Na prática, o sistema francês é cambiante. Na coabitação, é parlamentarista; caso a coalizão do presidente controle a Assembleia Nacional, é presidencialista.
O En Marche, de Macron, deve lançar candidatos próprios, da sociedade civil, em metade dos distritos eleitorais. Nos demais, os candidatos podem vir de outros partidos, desde que se aliem ao movimento do presidente eleito.
Socialistas que desde o início do século tentam conduzir seu moribundo partido para o centro começam a aderir ao vitorioso, assim como integrantes da centro-direita.
Macron tem condições de levar adiante seu projeto de "renovação e reunião" se conseguir conciliar tais forças em uma bancada expressiva. Caso predomine no Parlamento, a direita tradicional almeja impor um plano mais ambicioso de medidas pró-mercado.
Mesmo o programa moderado eleito enfrentará oposição firme nas ruas —dos sindicatos, da esquerda radical de Jean-Luc Mélenchon e mesmo de Le Pen.
Há, pois, risco elevado de impasses, os quais têm limitado reformas na França faz mais de 20 anos.
Macron governará por um mês antes da eleição parlamentar. Logo de início, deve propor mudanças na legislação trabalhista e uma lei de moralização da política. Esse programa indicará se os franceses estão decididos a dar poder de renovação a seu presidente novato. Mais paralisia tenderá a cevar o radicalismo crescente nesta década.
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