- Folha de S. Paulo
Como previsto, Emmanuel Macron venceu com facilidade o segundo turno da eleição francesa. É necessário aguardar o pleito legislativo de junho para ter uma ideia mais precisa de como será a sua administração, pois ainda não está claro se ele terá maioria para governar sozinho, se precisará formar uma coalizão, que poderia ser tanto com a centro-esquerda como com a centro-direita, ou mesmo se terá de engolir logo de cara uma coabitação, isto é, um primeiro-ministro que lhe faça oposição.
Já dá, porém, para refletir sobre a posição de Macron no espectro político. Por falta de termo melhor, a imprensa mundial o vem chamando de centrista. Ele próprio gosta de afirmar que não é de esquerda nem de direita, mas acho que dá para dizer sem medo de errar que o próximo presidente da França pode ser descrito como de direita no campo econômico e de esquerda na pauta social.
Macron é firme defensor da economia de mercado numa vertente ortodoxa. Ele quer reformas trabalhista e previdenciária e insiste na manutenção do equilíbrio fiscal. Pretende cortar gastos em várias áreas para liberar 50 bilhões de euros em investimentos nos próximos cinco anos. Propõe uma integração econômica ainda maior entre os países da UE.
O mais jovem presidente da França, porém, abraça com entusiasmo bandeiras bastante identificadas com a esquerda, como casamento gay, direito ao aborto e descriminalização das drogas (no final da campanha, deu uma recuada no último item). Também chocou a direita ao dizer que a França cometeu crimes contra a humanidade na Argélia. Quer uma política aberta de imigração e se opõe às leis que banem o uso de véus e outros símbolos religiosos.
Não há nenhuma garantia de que essa receita vá funcionar, mas ela tem o mérito de tentar fazer os direitos individuais e o bem-estar avançarem sem dilapidar as bases econômicas que os garantem.
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