terça-feira, 9 de maio de 2017

Vaccari recebia propina ‘obra a obra’, diz delator

Ricardo Pessoa disse, no entanto, que não discutiu pagamentos ilegais com Lula

Dimitrius Dantas, Cleide Carvalho | O Globo

-SÃO PAULO- O empresário Ricardo Pessoa disse ontem ao juiz Sergio Moro que o ex-tesoureiro do PT João Vaccari cobrava propina “de obra a obra”. Ele confirmou o pagamento de vantagem indevida que saía da diretoria de Serviços da Petrobras a Vaccari, a pedido de Renato Duque, então diretor da área. Segundo Pessoa, a discussão dos percentuais e da divisão de pagamentos ocorria depois que as empreiteiras e os consórcios assinavam contrato com a estatal.

— Eu me reunia sistematicamente com o Vaccari no meu escritório da UTC em São Paulo e fazia praticamente uma planilha (de propina), um controle obra a obra — disse.

O ex-executivo da UTC fechou acordo de delação premiada com os procuradores em maio de 2015 e foi convocado ao processo como testemunha de acusação.

— Éramos instados a colaborar. O porquê se pagava isso é porque nós éramos cobrados — afirmou Pessoa ao Ministério Público Federal (MPF).

Pessoa contou que se encontrava periodicamente com o então tesoureiro do PT para tratar da cobrança de valores indevidos. Ele, no entanto, negou ter tratado sobre propinas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou com o ex-ministro Antonio Palocci. O empresário disse que o pagamento da propina era feito na forma de doação eleitoral para o Diretório Nacional do partido.

— Na época de campanha, as coisas se dividiam, porque tinham algumas contribuições de campanha que não eram vinculadas à obra, mas a grande maioria era descontada dessa planilha.

PP TAMBÉM COBROU PROPINA
Pessoa também confirmou a cobrança de propina na diretoria de Abastecimento, destinada ao PP. Disse que o ex-deputado José Janene (PP-PR) o chamou por volta de 2005 e 2006 para avisar que a diretoria de Abastecimento seria do PP, a partir da posse de Paulo Roberto Costa como diretor da área. E que as empresas teriam de pagar propina equivalente a cerca de 2% do valor do contrato. Caso fossem assinados aditivos, os valores também deveriam deduzir as propinas.

O depoimento foi prestado no processo em que são denunciados Lula e Palocci. A Lava-Jato investiga a compra, pela empreiteira Odebrecht, de um terreno em São Paulo que serviria de sede para o Instituto Lula. O processo está ainda em fase inicial.

Em delação premiada, Marcelo Odebrecht confessou ter utilizado uma empresa parceira, a DAG, como laranja no negócio para afastar a ligação entre a empresa e a propriedade.

O pecuarista José Carlos Bumlai e o advogado de Lula, Roberto Teixeira, também teriam atuado no negócio. No entanto, após visitar o local, o ex-presidente Lula não teria se interessado pelo terreno. O processo também investiga a compra da cobertura de um apartamento em São Bernardo no mesmo andar que o do ex-presidente.

Segundo a denúncia, o apartamento foi comprado por Glaucos Costamarques, primo de Bumlai. O imóvel teria sido comprado por Costamarques com valores transferidos pela empreiteira Odebrecht. A defesa do ex-presidente afirma que Lula aluga o apartamento e que Glaucos Costamarques teria comprado o imóvel a título de investimento. O Instituto Lula também afirma que nunca mudou sua sede.

Em nota, a defesa do ex-presidente Lula afirmou que as imputações do processo são “vagas e genéricas”, e a acusação a Lula, “francamente especulativa".

No início da audiência com Pessoa, a defesa do ex-presidente Lula disse que também iria fazer a gravação do áudio, como foi o procedimento da Justiça Federal. O GLOBO entrou em contato com a defesa de Vaccari, mas não obteve retorno.

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