Ex-ministro Mantega seria elo para distribuir propina
Segundo delação, intermediário não se beneficiava de dinheiro, que era entregue a parlamentares petistas. Ele faria também ponte com o BNDES
Lauro Jardim | O Globo
Nem Antonio Palocci, nem Lula. De acordo com o que Joesley Batista contou em sua delação, o ex-ministro Guido Mantega era o seu elo com o PT. Ele relatou que havia uma espécie de conta-corrente para o partido na JBS. Por meio dela, e tendo sempre o ex-ministro da Fazenda de Lula e Dilma Rousseff como intermediário, a empresa irrigava os bolsos de parlamentares petistas.
Ao falar de Mantega, os delatores afirmaram que era ele quem operava para o grupo junto ao BNDES. Portanto as tratativas para aportes de dinheiro na empresa eram negociadas diretamente com o ex-ministro. Os delatores ressaltaram, no entanto, que Mantega não pegava o dinheiro para si próprio, mas sim para o partido.
Joesley disse aos procuradores da República que Luciano Coutinho, presidente do BNDES em quase toda a era petista, mostravase duro nas negociações. Mas admitiu que, às vezes, se reunia com Coutinho e lhe parecia que Mantega, com quem tratava de propinas para o PT, já havia antecipado os assuntos da JBS para ele.
Palocci é citado em situação mais light. Joesley afirmou que o contratou como consultor quando a JBS começou sua escalada. Mas, segundo o delator, Palocci atuava mais como uma espécie de “professor de política” para o empresário então neófito entre os gigantes da indústria e da política. Ele garantiu que Palocci nunca se meteu em seus pleitos ao BNDES — tarefa que era de Mantega. Mas admitiu que Palocci, que também foi ministro de Lula e Dilma, pediu a ele doação de campanha, via caixa dois. E o dinheiro, claro, foi dado.
JBS FOI A MAIOR DOADORA EM 2014
Em relação a Lula, Joesley afirmou aos procuradores que não tinha intimidade com o ex-presidente. Narrou, entretanto, um encontro com Lula em que, preocupado, reclamou que as doações, no caixa um ou dois, estavam atingindo cifras astronômicas e estariam chamando atenção. Segundo Joesley, Lula ficou quieto, nada falou e não esticou o assunto.
Em 2014, a JBS foi a maior doadora de campanha: R$ 366 milhões foram repassados a diversos partidos, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nessa prestação de contas oficial, só consta o dinheiro liberado “por dentro” para os partidos políticos.
Na semana passada, o ex-ministro Guido Mantega, que conduziu a economia do país entre 2006 e 2015, em entrevista à “Folha de S.Paulo", criticou delatores da Odebrecht, alegando que eles criaram “ficções” para obter a delação premiada e teriam inventado histórias “inverossímeis” e sem provas. Ele disse ainda acreditar ter sido alvo porque teria contrariado os interesses da empreiteira em 2009, quando defendeu o veto a uma lei que dava à construtora anistia sobre débitos tributários. Ao jornal, o ex-ministro, que tem 68 anos, afirmou que tinha medo de ser preso — principalmente por ser a principal pessoa a dar suporte psicológico para a sua mulher, Eliane, que enfrenta um tratamento de câncer — e que esperava que a justiça fosse feita.
Com as delações da Odebrecht, o ex-ministro Guido Mantega chegou a ser preso em 22 de setembro do ano passado pela operação Lava-Jato. Na ocasião, a mulher de Mantega estava internada para ser submetida a uma cirurgia. Mas ele só ficou detido por cerca de sete horas. O juiz Sérgio Moro revogou a ordem de prisão temporária, considerando que, como as buscas já tinham sido realizadas, não haveria risco de o ex-ministro interferir nas investigações. Moro disse que a internação da mulher do ex-ministro era desconhecida da Polícia Federal, do Ministério Público e dele próprio. Em depoimento à Lava-Jato, o empresário Eike Batista acusou o ex-ministro Guido Mantega de ter pedido R$ 5 milhões para o pagamento de dívidas de campanha. A denúncia foi negada pelo ex-ministro.
Colaborou Guilherme Amado
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